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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

sábado, 16 de outubro de 2010

Projecto Magnólia avalia Aldeia de Deus de Lueji Dharma

Lueji Dharma
Aldeia de Deus / Tchehunda tcha Nzambi

A Autora interpretou muito bem o desafio lançado, e efectivamente, o texto da Aldeia de Deus adequa-se ao objectivos pretendidos. Uma maior riqueza seria alcançada/criada, através da extensão simbólica à ligação da humanidade com África.
O desafio é cabalmente respondido, quer através da contextualização espaço-temporal (por ex. Do povo Lunda-Tchokwe), quer através da “saga” de Lueji.
A história de Lueji é uma história rica, repleta de símbolo e significado, que muito traria ao público em geral, toldado pelo desconhecimento, e particularmente aos públicos cuja historia ancestral seja ligada a África: tanto aos de origem africana como aos de origem europeia que de lá partiram nesta ou noutra anterior geração. Lueji pode “reparar” o(s) vazio(s) e preparar caminho(s) de futuro(s).

Contudo, o momento para levar a cabo uma encenação d’ Aldeia de Deus não é o mais indicado. Tanto pelo momento em que este primeiro desafio foi lançado como pelos requisitos que a coerência da narrativa apresentariam.

No entanto, é do meu entender que Lueji é de um valor inestimável, e que tem que no futuro ser mensageira da insatisfação, da busca por sabedoria, pelo conhecimento.
A bem deste.

Muito obrigado pela resposta, e teria imenso prazer se o assunto pudesse voltar a ser abordado no decorrer de 2011.

Júri do Projecto Magnólia

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Ascensão


Ascensão


a janela transparente
perdeu o simbolismo de barreira
entro e saio, saio e entro
sem qualquer fronteira
é o paraíso verdejante
há muito prometido
árvores liliáceas
com flores suculentas
que adocicam o mel da existência
prometendo esperança
cumprindo promessas
manifestando ideais mágicos
de magias vastas
do querer e saber ousar
do medo não temer
e da fé sofrer
caminhos de experiência
sem a nefasta sonolência
do império corruptível
são mãos que se erguem
em liberdades extremas
de quem comunica movimento
à atmosfera real
agitando estados de libertação
no dedilhar de cordas vocais
do faça-se agora
uma país de ascensão
que alegre a felicidade
enterneça a compaixão
e alimente a esperança
dos que reprimem aís
dos que engolem soluços
em espasmos de dor
e no arfar do silêncio
da fome mortal
elevam o corpo ferido
de exclusão
buscando o consolo do pão
são mundos ricos e pobres
que se perdem num
um único mundo

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Ventos de mudança

Aproxima-se a brisa
que traz o vendaval
no ar paira o cheiro
da carne apodrecida
de tanto
branquear ao sol
de tanto
roubar a luz
de tanto
drogar a esperança
são ventos de mudança
que sinto lá fora
ventos quentes
ventos frios
vindo do oeste
e do este
são brisas que se contorcem
em turbilhões de vendavais
é o mar que investe em ondas
é a chuva que cai
no mar das ilusões
levando para bem longe
esse mundo de desilusões
é o vendaval que espero
cá fora
é o vendaval
que aguarda silenciosamente
o fervilhar da madrugada

A Requalificação urbana e paisagística de Luanda

Quem vive em Luanda tem se apercebido do grande investimento que o Estado tem feito para requalificar a cidade de Luanda. Hoje ao circularmos por Luanda verificamos que bairros inteiros sofreram obras profundas de requalificação.

Esgostos a céu aberto foram eliminados

Muito do tecido edificado em Luanda padecia de um rede de esgotos funcional, havendo por isso nas ruas áreas com esgotos a céu aberto. Actualmente já não é possível encontrar na área do Primeiro de Maio ou do Cassenda as famosas lagoas onde carros e pessoas avançavam.

"Requalificação de espaços verdes"

É possível vislumbrar ao longo de eixos viários áreas totalmente ajardinadas com iluminação urbana adequada. De salientar o espaço verde junto à Clínica da Sonangol entre outros.

"Requalificação das fachadas"

As fachadas sofreram uma mudança drástica com a pintura que pretendeu buscar as cores da Luanda antiga. Um processo de intervenção rápido que devolveu dignidade às ruas de uma cidade que tem tudo para ser um Dubai.


Por isso, há que salientar e elogiar o bom trabalho que concerteza trará qualidade de vida aos cidadãos desta cidade um tanto ou quanto maltratada pelo tempo.

sábado, 2 de outubro de 2010

7 de Outubro - Mesa Bicuda com Kate Kama



Não falte!
Kings Klub 250kz


Mais informações:
http://cangue.blogspot.com/2008/12/siamesa-da-kate-hama.html


" A siamesa: aparição, de Kate Hama? – perguntar-se-á. Não posso não responder, senão dizendo que é justa e precisamente desta cosmogonia e da cultura que ela encerra que parte e se constrói esta obra, ela mesma e a seu modo uma cosmogonia – ou, se se preferir, uma lenda fundadora sobre almas penadas, com suas almas e espíritos em trânsito entre o humano e a desencarnação, pelos universos do maravilhoso e do fantástico de que se alimentam as oraturas tradicionais angolanas. E isto, tanto ou mais que só uma obra do género literário da ficção científica.

*
* *

Dá-nos o autor como espaços onde decorre a narrativa, para além de Galáxias, como as do Além e dos Ares Quentes, por exemplo, a Cidade das Ruelas Estreitas (ou Apertadas), a Cidade de Solos Húmidos, os Condados do Labirinto, com o seu Salão Nobre, os Salões Amarelos da Constelação Unipolar, e a Esfera Rolante como se fosse o seu Cosmos.

Kapilas e Uvalas são os seres seus habitantes, muito embora entre si, por penetração sexual, à semelhança dos humanos, geneticamente se cruzassem e reproduzissem. Como seus líderes supremos, o Primeiro entre Pares e o Primeiro entre Ímpares.

“Lorde Kapito, o senhor do Labirinto” (título, aliás, do Capítulo V, e personagem que no capítulo anterior é dado como “O terror das imaginações”), “era um dedicado e extremoso anfitrião”, e um romântico. Acomodando “com brilho e riqueza em conforto os seus visitantes ou convidados.”, “Não acreditava que as guerras iluminavam a mente.”, pois

A paz, assim como a guerra, são dons universais que inúmeras vezes tiveram de ser exigidos da humanidade.

Os que se guerreiam, a uma dada altura sentem a necessidade da paz, para voltar a animar os valores mais usualmente humanos.

De certo modo, a paz mal amanhada e aconselhada é a guerra incubada. Para as zonas da Esfera Rolante que procurassem a paz e a calmaria, o Lorde tinha postado as Legiões dos Intriguistas, dos Conspiradores, Fazedores de Insatisfeitos, Promotores da Estupidez perante a Riqueza, e, finalmente, Corruptores. Um rol de gabinetes funcionais e activos em full-time, na defesa da existência da estrutura da Torre e dos seus superiores da Galáxia dos Ares Quentes.

Lêem-se estas palavras de exorcismo e de esconjuro da guerra e da morte que dela inevitavelmente advém, a páginas 45, cujos funcionários

Preocupavam-se com o dia a dia de certo número de escolhidos da Torre para lhes transmitirem, durante as festas, as orgias e os passeios nas localidades de Lorde Kapito, os fundamentos de uma vida saudável entre a intriga, a inépcia, a incompreensão, a desonra, a utilização daqueles que não eram adeptos dos ensinamentos do Lorde e daqueles que se uniram aos kapilas.

A vida durava pouco…

E mais adiante, diz o autor, volvendo a um plano já não tão próximo do humano, que “O valor da vida é pleno, quando a alma se confunde com os nossos dons, os espirituais e os naturais.”

Como anfitrião dos humanos, que antecipadamente se libertavam das suas “carcaças” para o encontro, o Lorde, depois de um “firme aperto de mão”, abraçava fortemente a alma dos homens, com quem trocava “Olhares sábios e segredantes.”, enquanto que

Às almas das damas, dependendo da sua estrutura física e tessitura facial, o Lorde tanto podia, depois de levemente vergar-se e menear a cabeça, beijar a mão como dar um ou dois dedos de conversa promissores!

O Lorde, com a sua “formação secular em Direito de Usurpação dos Dotes Inerentes ao Cérebro Humano.”, e como Representante do Primeiro entre Ímpares, não se poupava a esforços para impressionar as humanas almas que o visitavam, promovendo bailes e orgias inesquecíveis, lautos banquetes com tudo quanto de melhor, em comidas e bebidas se podia importar da Europa ou da África do Sul, a que nem os perfumes Kenzo, da sua particular predilecção, faltavam. Afinal, sentencia ele (ou o narrador por ele), “Os humanos viviam de ilusões e efémeras banalidades.”

Metáfora do poder, das suas estruturas e hierarquias, e metáfora da guerra, A siamesa: aparição é um romance cheio de humor, de ironia, e de transgressão (características tão comuns ao povo angolano, no seu quotidiano), onde o mito ancestral da dualidade, ou do duplo, se torna o fio condutor e labiríntico da narrativa, como desde o próprio título se dá a ler.

A perseguição à Siamesa, levada a cabo por uma Legião especial Ad-Hoc, da Constelação Unipolar, composta por Kanupy II, Dito e Alaina, é feita com as mais requintadas invenções tecnológicas, como os Carros de Cata-Ricos e os sistemas de comunicações bipolares, a par de camiões e automóveis humanos, onde não faltam sequer humaníssimos acidentes de viação, ou engarrafamentos dos túneis de ascensão. Túneis de ascensão para as almas, naturalmente. E para os seus meios de transporte, detecção e resgate.

Dividido em cinco partes e quinze capítulos, este primeiro romance de Kate Hama não descura nem a figura da mulher nem a sensualidade, o amor, o afecto e o erotismo nas suas páginas. E são justamente personagens femininas algumas das mais fascinantes criações ficcionais traçadas neste livro, como Alaina, Laurinda e Serafina, para além da Siamesa, que, depois da “missão cumprida” por Kanupy II, ao resgatá-la finalmente, e de lhe “fazer as análises da praxe”, a colocou a “relaxar na estufa central da Constelação Unipolar.” Posteriormente, e durante 12 horas, foi autorizada a voltar “a sentir emoções humanas.”, e a rever todos os seus entes queridos.

Não se pode dizer deste livro que seja uma obra-prima, muito embora, descontando, por vezes, um excesso de descritivismo narrativo, seja A siamesa: aparição uma obra consistente, reveladora de um talento sólido de contador de estórias, que vivamente auguro se venha aperfeiçoando nas próximas narrativas, pois só escrevendo, rasgando, reescrevendo muito, se aprende a escrever.

Livro de frescura e vida (porque, afinal, também as almas penadas ou extraterrestres são feitas de sentimentos e vida), A siamesa: aparição deve ser saudada em leitura de proveito e encantamento – e, permito-me repetir –, deve ser saudada fundamentalmente como a obra literária de um escritor que só a Paz pôde trazer à literatura angolana e, agora, ao nosso convívio."

*Zetho Gonçalves é poeta angolano e reside em Lisboa

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