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sábado, 23 de março de 2013

alpendre

Sentada neste alpendre musical ecoam notas mil nesta pauta da pausa soas a algo febril um calor sem temperatura uma revolução ausente de mudança uma dor da cor do medo uma entoação elevada assim e esta pausa neste cometa musical da dor desigual coberta de ecos infantis de sonhos comuns numa meta sem fita numa fita sem metrica neste alpendre sem paredes onde comprimento iguala largura

luar mar

Neste mês igual ao tal o tempo escorreu o mar secou o luar escureceu Oh desespero!!!! Oh tempero vital A dor tão desigual Se no mar a lua estivesse Se na lua o mar coubesse Haveria apenas um mar luar um luar mar assim como e certo eu te amar e Ser o luar do teu mar O mar do teu luar este coraçao no teu olhar

Poesia no feminino

Oh flor em sangue mendiga de saliva do beijar Oh ensaguentada flor necessitada de um beijar ali em contra baixo na zona daquela dor so a tua saliva conforma o medicamento para tamanho sofrimento oh beijar equatorial que nem meridiana tangencial desta dança espiritual Oh beijar ali que cicatriza a ferida da minha entrada oh inicio neste ali teu e meu meu e teu oh sarada ferida nesta saliva alada ali na zona baixada da magoa magoada oh boca de petalas nesta rosa de palavras enfeite da nossa alma Oh porta de entrada da musica ritmada nesta dor descompassada da tua lingua amada matria desejada tua porta de entrada da vida almejada... Lueji Dharma oh beijar na zona baixada

segunda-feira, 18 de março de 2013

Orfanato do amor

O orfanato do amor contempla-se na face da criança que agora em lágrimas sente a perda irreparável do colo da mãe. Como adormecer sem o calor maternal que embalava o sono num compasso ritmado do bater do coração. Como preencher esta ausência que tortura o espírito e o físico? A dor é esbatida no sugar aflito de uma chupeta. Mas a ausência! Ai a ausência! É dor que mata e consome… a saudade! Intangível o sofrimento que nos percorre… a visão de ti: Mãe. Oh visão de tudo o que perdi! O canto dos anjos embala a memória… não quero me esquecer de ti! O meu corpo de criança hipnotizado transmuta-se em lembrança. Mãe o teu colo! Mãe o teu abraço! Parte de mim… contemplo-te agora mãe. Desejo o teu abraço, carinho e amor. A felicidade parece estar à distância das minhas memórias. Não aceito esta tua ausência. É com este giz que te desenho neste chão frio em que vivo. É com o giz que te volto a trazer à existência para o meu e teu consolo. É com este giz que te desenho do tamanho onde caibo no teu colo. És tu mãe a minha suprema obra-de-arte. Ressuscito-te e elego-te meu altar sagrado. E é no teu colo que restabeleço a conexão com a minha paz. Oh divindade que me aconchegas o sono: não voltes a fugir de mim. Lueji Dharma 18-03-2013

domingo, 17 de março de 2013

Uma História de Amor à Procura de um Final Feliz

Assim como assim, estava desfeito o mistério. Sobrava apenas a curiosidade pelos detalhes. Como, aonde, quando, quem e porquê suspendiam Samira e Tamara, no fio condutor de uma história. Já não se questionavam se verídica era? Acreditavam piamente, que toda aquela história comigo se tinha passado. Será? Como prender leitores senão relatar experiências também por eles vividas? Mas mais importante, como defender o amor, sem fazer crer ao leitor que também o autor já padeceu desse mal maior? Histórias de amor dizem-se ridículas, assim como as cartas. Mas quanto mais observo o mundo em volta, mais sinto os homens desejosos de viver um grande amor. Entregar-se de corpo e alma à tal alma-gêmea. Porém, num mundo de canalhas e interesses, muitas vezes, absurdo é acreditar no amor. Vejo mulheres perderem-se em ataques infames a amantes de maridos infiéis. Vejo infidelidade grassar como erva daninha no mal necessário do casamento. E o amor esvai-se em dores de um parto atroz. Até os homens, neste capítulo conseguem fazer nascer filhos. E neste capítulo do amor, não há cor e não há raça, todos amam, todos sofrem e todos se ficam na margem entre o canalha e o amoroso. E aqui, vos apresento uma história de Amor à Procura de um Final Feliz. Uma história eventualmente minha, ou de qualquer outro que já tenha optado por caminhar no desfiladeiro do amor. Sem medo, com medos numa cruzada com contra-cruzadas de uma Madalena imberbe, inocente, apaixonada nas mãos de um... vá-se lá saber que nome dar... 11 de Abril de 2008 Agora que passou um ano desde a primeira vez que te vi, regresso a este mês, num derradeiro esforço para reescrever a nossa história. Gostava de escrever um final feliz. Mas no leito da minha dor todos me dizem ser impossível, porque não me amas. E há quem me grite ao ouvido: «a vida não é só finais felizes! Acorda! Achas que ele te dedicaria um livro?!» - perguntam-me numa ironia cortante. E sem saber porquê, respondo com toda a confiança de uma fé inabalável: — Sim! Ele era capaz — sinto amor na caminhada sem provas. Como antigamente os amantes escreviam cartas que, desesperadamente, introduziam em garrafas lançadas ao mar, na confiança cega do destino se encarregar de entregar à alma certa. Assim, escrevo este livro revelador do amor que nutro no solo fértil do coração; e para iniciar, nada como voltar a este mês de Abril do teu aniversário. Foi neste mês de lágrimas mil que os deuses se reuniram para me lançarem o feitiço do amor! Decidiram oferecer-me como tua mulher, sem me consultarem. Os deuses devem estar loucos! E tu, marcaste-me, assim que me viste? Sabias que ia ser tua? Ou serei a tua mulher? Sabes isso? Por acaso tens a resposta? Agora, regresso a este mês de Abril e lágrimas mil a tentar reescrever esta nossa história de amor. Recuo o tempo, no folhear da memória! Se me amas verdadeiramente levanta os olhos quando entro. Mas se me queres simplesmente magoar, mantém-nos preso ao papel e não me perturbes! Fecha os olhos enquanto entro na tua sala. Não os levantes nunca. Não me vejas. Deixa-me sair como entrei! Deixa-me sair como entrei! - Antevejo uma tragédia – riu-se Tamara para Safira. Deixa-me sair como entrei? - E saíste como entraste? – perguntou Safira apertando o cabelo num puxinho. Descobrindo a nuca ao sabor fresco do ar. A história deixava-a afogueada. — Claro que não! Ele montou-me uma armadilha onde intencionalmente caí. — Intencionalmente? — Sim – ri-me, em todo o processo nunca perdi a consciência. Espera, minto, só quando fui anestesiada... — E foi bom? — Foi delicioso, foi excelente! Pela primeira vez na minha vida senti-me completa e finalmente entendi o conceito de alma gémea. Pela primeira vez na vida entreguei-me por completo e amei de verdade. — Então valeu a pena?! — Já me fiz essa pergunta milhares de vezes... e aqui perante vocês tenho de confessar que valeu a pena porque percebi a dimensão do desejo, paixão e amor! — O Amor engrandece! – suspirou Safira, antevendo o tempo de viver o seu grande e eterno amor. — Sim, quando descobres o amor verdadeiro passas a acreditar que podes conquistar o mundo. Que a vida é uma tela colorida que todos os dias escolhes pintar nas cores que queres. — Mas como se conheceram? Quem é ele? Como te cativou? – apressou Tamara numa tentativa de descortinar o personagem principal. — Conheci-o num hospital…por causa de um quisto que tive no pulso. E antes de o conhecer sentia, claramente, que esse quisto era somático. Sentia ser o meu inconsciente a empurrar-me para a necessidade de viver uma vida plena; a acreditar no amor, mas Oh God! Era tão difícil, pois quase toda a gente me gritava: sonhos, amor, alma gémea…cresce! Isso não existe! E eu a balançar, na dúvida entre a realidade e o sonho, abri as portas ao caos! Ou seja, para a estrondosa entrada de Leão Magno… O Dia em que te conheci — 11 de Abril de 2007 A tua voz rouca anunciou o meu nome vezes sem conta. E enfiada na casa de banho saí a correr. Mas demasiado tarde. O meu atraso parecia ter-te deixado mal-humorado. E por isso, entrei na tua sala timidamente, não te queria dizer que estava no W.C. Pediste-me, num tom monocórdico que fechasse a porta e tomasse assento numa das tuas cadeiras desconfortáveis. Lueji Dharma

sexta-feira, 15 de março de 2013

Um livro recomendável

Não sei definir bem este sentimento, até porque é estranho em mim. Um sentimento de invasão de um orgulho que não sei de onde vem e que até acho descabido. Mas que fazer se é o que sinto? E não é bajulação porque tenho muitos amigos que escrevem bem mas nunca senti este orgulho tipo é meu com uma coisa de outro. É estranho não é? Orgulhar-me "tipo é meu" com algo de outrém... Talvez não seja as letras desenhadas em palavras que configuram o texto que eu identifico como meu, mas talvez o sentimento que inspira o arquitectar desse texto é que me leva a apropriação e depois ao orgulho. Acredito que partilhamos o mesmo sentir, mas não sei se é possível partilhar algo tão íntimo. Será? Ou nesta espécie de relação que temos vindo a desenvolver ou a nos deixar envolver estamos a criar uma espécie de sentimento uno na diversidade de opinião e de vivências. Sim, porque das conversas que tenho contigo parece sempre que estamos em campos de batalha opostos. Mas que na altura de fazermos a guerra optamos sempre por mandar os exércitos para casa e decidimos fazer amor. - Desarmar e bazar people que nós aqui temos mais que fazer que guerrear! -Então é o quê boss que é mais importante que guerrear? - FAZER AMOR meus kambas! FAZER AMOR! E no desarmar da cavalaria e no despir das armaduras cobrimo-nos do bálsamo do amor desinfectando feridas e recuperando órgãos e membros feridos de dor. Sim, nós vamos à guerra com vontade de amar. Mesmo que essa batalha seja digitada e virtual. Mas o que interessa é que vamos e fomos... E neste campo de batalha os prantos que se ouvem fazem parte de uma arte que nada tem de maquiavélica e que cobre prados ensaguentados de flores perfumadas. Oh doçura a formosura do amor. Oh xinguilamento eterno! Pudera todos os campos de batalha conhecer o acto de amar! Pudera o mundo reconhecer a beleza da partilha na diversidade. Sermos um sem com isso deixarmos de ser únicos. Oh que guerra esta que nos oferece o amor sem com isso nos cobrar a individualidade. Amar na liberdade. E assim é este livro que elogio. Um acto de amor patente no servir... será isso o que tu articulas em palavras cobertas de uma ciência esclarecida e iluminada provida de método? Talvez não. Talvez eu me leia no teu texto. E não leia o teu texto. Ou talvez descubra o sentir por detrás de cada palavra escrupulosamente reescrita. Sim porque não as escreveste. Tu as reescreveste. Escreveste e depois censuraste e camuflaste. E agora que leio este desenho reescrito nesta paisagem desolada de uma cama virgem fico com este sentimento de ausência de verdade e honestidade. Talvez deva folhear este livro até me cansar de economia, de cultura e de tecnologia... e esta imagem de um jardim que até era de todos nós? Será o paraíso? Será o amor? Estou a revistar todas estas folhas deste livro e não encontro o amor? Oh Poesia! Onde andas tu? Doce inventar da tecnologia da atitude humana. A tal de revolução mental e espiritual... foste esquecida? Ou estarás adormecida entre palavras escritas e reescritas deste livro que agora não me parece novo, mas envelhecido. É verdade que este livro está entre o mal (contra bajulação) e o mal (bajulação). Sim! Este livro não toma partidos. Mas parte do quê? De um sistema entre males? A tal de Democracia? É isso não é? Atira ao meio, entre o mal e o mal! É o menos mau! Atirou-se portanto a uma meta elevada. Ser o menos mau! Gostei e recomendo. ***** um livro recomendável! Lueji Dharma

terça-feira, 12 de março de 2013

As vantagens de ser um filho pródigo…

A dor do sofrimento exalta em diálogos de frustração empunhados a um Deus que parece não ouvir. O medo, a injustiça, a comparação atiram-nos para o fundo do poço. Buscar a Deus parece não ser mais solução. Para quê? Para quê viver a acreditar em Deus quando quem não acredita parece ser quem mais acerta! Os milhões correm na avenida em direcção a esses que espezinham, humilham e violentam o ser humano em toda a sua dignidade. Aos seus fiéis é reservado o pranto da queda, o pranto da injustiça e o clamor. Aos outros a entrega dos bens materiais e das facilidades da vida. Em debates alguém alega não dormirem por peso na consciência! Ahahahahaha… peso na consciência? Só se não convives com eles. A consciência não lhes pesa. O sono só é interrompido no momento em que se prepara outro golpe para “desviar” mais algum dinheiro ou vítima. Nada de peso na consciência. O peso na consciência é para quem vive nos caminhos divinos consciente de que ainda lhe falta muito para o Ser. E consciente do pecado que carrega interrompe o sono para de joelhos e lágrimas nos olhos clamar o perdão. Mas a esse estão reservados mais obstáculos, mais humilhações e sonhos “básicos” que dificilmente consegue alcançar. Primeiro serves a Deus. Depois a ti. Mas Deus te compensará. E dia após dia ele carrega na fé o sonho da compensação e de um dia acordar sob a capa do milagre na vida que sempre sonhou: “uma família em amor, num lar abençoado”. Um sonho simples mas quase impossível de realizar para quem serve a Deus. Irónico! Mas verdadeiro… Aos que servem é reservado mais obstáculo, mais adversidade e ao mesmo tempo a visualização de que sem Deus é possível alcançar o básico e muito mais. Tudo se passa como se de um filme se tratasse onde os “vilões” sempre ganham e os “bons” vivem servindo uma causa perdida entregues ao desespero de arrecadar cicatrizes que raramente se curam. E tudo porque Deus é um Deus que está sempre disponível ao perdão. Ele perdoa os vilões. Assim basta estes se arrependerem todos os dias e Deus está com eles esquecendo seus filhos que sempre o acompanharam. Um Pai que vela mais pelo regresso do filho desviado do que pelos filhos que não se desviam. “Quando chegou em sua grande casa, no meio daquela fazenda gigantesca, viu outros empregados de seu pai, arrumados e correndo para atender a todos na festa, e ficou bastante confuso:- Oque está havendo aqui?- Chamou um dos empregados e perguntou oque estava acontecendo: - AAA meu senhor, seu irmão mais novo retornou ao lar. Seu pai está muito feliz e mandou que preparássemos uma grande festa para ele. -Oque?Meu pai está louco?Ande, vá chamá-lo já! O empregado foi correndo chamá-lo, enquanto o filho que além de cansado, agora estava enfurecido pela atitude do velho. Depois de algum tempo, o velho pai com um sorriso nos lábios veio ao encontro do filho, que muito irritado já foi esbravejando: - O senhor endoidou de vez? Onde já se viu dar uma festa em pleno meio de semana e ainda mais para esse perdido! Ele não é merecedor de uma festa, nunca! Já eu, me mato de trabalhar, cuido do senhor e de tudo por aqui e que ganho? Nada! Nem para essa festa fui convidado. O sorriso do pai se dissipou a ouvir tanto nervosismo e ressentimento, porém ele, um homem já idoso mas sempre muito amável com os filhos, abraçou seu filho primogénito, lhe deu um beijo e com lágrima nos olhos, segurou com as mãos seu rosto e disse: - Oh meu filho amado! Só Deus sabe o tamanho do amor que tenho por ti. O dia do seu nascimento foi uma alegria tal que se tivesse feito uma festa, não se compararia a essa. Você é meu braço direito, você é minha força, meu ombro para as lágrimas, meu amigo, meu irmão...você meu filho, você é meu sentido para a vida. O filho não consegue conter o choro e, como um menino reclama com seu pai: - Mas pai, porque fizeste esta festa para ele se tu me amas tanto assim? Nunca me deste uma festa e como disseste, eu sempre estive ao seu lado mas ele, ele abandonou a gente e sumiu no mundo, perdeu tudo que tinha e agora volta e o senhor o aceita de boa vontade como se nada tivesse acontecido? Então seu velho pai lhe diz: - Filho, Tudo que tenho aqui é teu. Além da sua parte você é o dono de tudo que possuo. Seu irmão esbanjou a parte dele, saiu sim pelo mundo, em busca de aventuras e as encontrou. Perdeu tudo que eu suei para ganhar e depois para não morrer de fome, foi trabalhar...trabalhar meu filho, coisa que ele nunca nem sonhou em fazer aqui, e trabalhava cuidando de porcos e comendo o mesmo que eles. Mas ele se arrependeu, viu que acabou com boa parte de sua vida apenas por prazeres passageiros e voltou pra casa...não sabe a alegria que tive quando o avistei ainda longe, da porteira de nossa fazenda. Ele me pediu perdão e até um emprego! Mas mais que depressa, preparei esta festa de boas vindas para ele. -Então meu pai, porque? - Porque meu filho? Porque ele estava morto e reviveu. Você está e sempre esteve vivo, faça quantas festas quiser com seus amigos mas esta festa hoje, é para dar boas vindas a nova vida de seu irmão! Entre, coma e beba connosco, dê um abraço em seu irmão e sente a minha direita na mesa, Nesta festa filho, não preciso te convidar, nela você entra e se sinta a vontade, ela também é sua”. História fictícia, baseada em Lucas 15:11-32 Fonte: http://jovensemcristobrasil.blogspot.com/2011/06/festa-do-irmao-do-filho-prodigo.html E aqui está a explicação para as festas e banquetes que todos os dias vemos homicidas, corruptos e ditadores receberem. Mas quem somos nós para julgar? Só Deus pode julgar… a verdade é que talvez o melhor é perdermo-nos para podermos pertencer ao grupo dos filhos pródigos… Para quem continua agarrado às promessas de Deus, boa caminhada, e nada de comparações porque vencer a dor do mundo é tarefa sua. A decisão de servir a Deus é sua. E é algo que apenas você poderá reconhecer. Não aguarde por reconhecimento ou festas. Aprenda apenas a aceitar que também fomos e poderemos vir a ser filhos pródigos e que também sempre fomos perdoados. Essa é a grande promessa de Deus: o perdão e o seu amor.

domingo, 3 de março de 2013

Votação para os 11 livros mais lidos de autores angolanos

Vote no (s) livro (s) que mais o marcou de um autor angolano! Clique no link abaixo e vote. Caso não encontre o livro em que pretende votar pode adionar o nome do livro e autor. Obrigada Lueji Dharma

Lueji Dharma entrevistada por Sérgio Conceição

Antes de mais quero agradecer a Lueji Dharma pela oportunidade e a disponibilidade em aceder conversar comigo. É um privilégio conversar consigo. Sérgio Conceição (SC): A primeira pergunta que lhe faço é a seguinte: Quem é a Lueji Dharma? Lueji Dharma (LD): Quem agradece sou eu e o privilégio também meu por ter sido escolhida para falar consigo neste teu espaço de entrevista. Bem. Sou uma mulher que nasceu no conturbado ano de 1977 na província da Lunda Norte. Aos 7 anos entretanto tive que “emigrar”para Portugal onde estive até 2006 altura em que volto a Angola. Sou uma pessoa normal, que faço um esforço por aceitar todos, sem perder-me a minha identidade e a minha liberdade. Embora reservada, acabo por gostar de viver envolvida em ambientes de cultura e arte. SC: Como é que foi esta mudança da Lunda Norte para Portugal? Não deve ter sido fácil não é? LD: Não foi fácil, pelo contrário, foi de uma dificuldade imensa. Desde logo teve que haver uma readaptação da família que penso nunca ter sido conseguida. No regresso perderam-se laços familiares, culturais e sociais impossíveis de reparar. Embora a comunidade africana na Madeira tentasse manter-se unida e conservar valores, confesso que nós jovens retornados sentíamo-nos deslocados. Esse vazio em alguns levou a situações problemáticas (alcool, suicídio, drogas...), em mim criou, uma pessoa bastante introspectiva, desejosa de conhecimento e muito ciente do mundo ao meu redor. Fechava-me muitas vezes no meu quarto e punha-me a ler e a escrever, para tentar entender melhor as razões por detrás de tanta injustiça. Só isto me ajudava a esquecer e a passar o tempo. Embora me tenha deparado com alguns espisódios de intolerância racial e cultural (confesso que, em geral, considero o povo madeirense acolhedor, solidário e empreendedor. Por isso, não me surpreendeu a lição de solidariedade e de reconstrução que a Madeira deu ao mundo após a “destruição” provocada pelas chuvas. SC: Entretanto aos 16 anos acontece-lhe algo que muda completamente a sua vida! LD: Um autêntico milagre! (risos) Numa altura onde as redes sociais como FB não existiam, e as livrarias desconheciam a literatura africana feita por africanos, acabei por receber uma prenda vinda dos céus, que ultrapassou as barreiras marítimas inerentes à vida numa ilha. Um casal de angolanos jogadores de handball do ASA foram viver para a Madeira ao serviço do Académico do Funchal. Este casal tornou-se parte da minha vida; estávamos praticamente todos os dias juntos, e de alguma forma me vi a reviver o lado angolano. E como eles sabiam do meu amor por livros ofereceram-me um livro de Pepetela em 1973 (na altura tinha 16 anos). Escusado será dizer que devorei o livro numa semana, e vivi momentos indiscritíveis, que até então, não tinha vivido em outros autores que lera: Júlio Diniz, Eça de Queiroz, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner, Milan Kundera, Sartre, etc. O livro começa com “Lueji voltou ao lago da sua infância”, e nada pode ser mais verdadeiro que esta frase. E neste regresso ao lago da minha infância identifiquei uma África com identidade, tradição e cultura. Começo a perceber com a leitura deste livro o que era cultura africana, as suas raízes, a vivência, os costumes, a rebelar-me contra os dogmas difundidos pelos filmes e novelas, onde o africano é sempre apresentado como o escravo, o acessório da história e aquele que acaba sempre por morrer. Mas para além desta quebra das regras do preconceito global, Pepetela faz cair mais um tabu ao ter como figuras principais duas mulheres africanas separadas por 4 séculos de história. Numa peça literária extremamente arrojada Pepetela deita abaixo tabus raciais e recria um Império onde a mulher é livre de escolher e de ser detentora do poder! SC: Entretanto aos 18 anos vai estudar Arquitectura em Lisboa? LD: É verdade. Por força das circunstâncias tive que ir para Lisboa estudar, pois o curso que escolhi não existia na Ilha da Madeira. Mais um processo migratório que marca mais uma fase da minha vida. Desta vez, teria que viver sozinha na metrópole, uma cidade desconhecida onde tudo era muito mais agressivo que a pacata cidade do Funchal. Acabei por partilhar uma casa com uma amiga que hoje também está em Luanda. Esta mudança, embora com algumas dificuldades pelo caminho, foi enriquecedora para a entrada na vida adulta. Ao fim de 6 meses já estava enquadrada na vida académica usufruindo das dificuldades inerentes ao estudo, como também, da vida nocturna lisboeta (em especial o Bairro Alto com os seus milhentos bares e as festas da Universidade). Destes momentos de rebeldia, recordo com destaque os passados a escrever e a debater filosofia na Rua do Mezcal com a minha grande amiga Carmo. Ainda guardo alguns textos com estas conversas metafísicas (muitos risos). Mas ainda assim nunca deixei de estudar, sempre fui responsável no que toca ao cumprimento dos meus objectivos académicos. Mas também não deixei de viver. Tentei manter algum equilíbrio entre viver e estudar (nada fácil!). SC: E a escrita ficou para traz? LD: Não, pelo contrário. Este gosto começou a intensificar-se cada vez mais, porque mesmo nas noitadas que fazíamos andava sempre com caderno e a certa altura, isolava-me em algum canto, para passar para o papel aquelas experiências e vivências. Escrevia com a ânsia de perpetuar aqueles momentos, as amizades e aqueles interlocutores. A vida era a minha maior inspiração. SC: Em 2006 viaja para Angola… LD: Sim e por apenas vinte dias. Mas foram 20 dias fantásticos e de muita adrenalina. Revi a família, amigos, a gastronomia:o funji com moamba de galinha, o mufete, o caldo, o calulu mas também investiguei e estudei a realidade e a sociedade angolana. Foram 20 dias produtivos onde acabei por visitar várias localidades de Angola, nomeadamente em Benguela e Lunda Sul. O retorno a Portugal foi feito com a certeza de um regresso definitivo a Angola. Na altura, fui incompreendida (até por mim... mtos risos) pela decisão profissional, familiar e pessoal, mas acredito que com o passar do tempo, será entendível as razões desse acto aparentemente inexplicável. Surge o primeiro livro. Depois de muito trabalhar e fazer uma pós graduação em sistemas de Informação Geográfica e Historia Regional Local Lueji Dharma volta finalmente a Luanda para lançar o seu primeiro livro - Uma história de amor à procura de um final feliz. LD: É um ensaio onde procuro expressar/falar do poder do amor e da opção de amar, apesar das dificuldades e adversidades que as pessoas enfrentam para continuar a acreditar nessa força que movimenta o mundo. É uma ficção, em que é realçado, acima de tudo, a necessidade de te entregares ao amor sem medo de sofrer ou de condenações. O amor é indispensável à busca pela felicidade, sendo, por isso, um dos temas em que muito medito e que decidi partilhar pela primeira vez com os leitores. SC: Depois deste livro outros projectos ligado as artes surgiram em sua vida; um deles e na qual faz parte até agora é Movimento LevArte onde tem uma rubrica, A MESA BICUDA, e que nela entrevista pessoas da sociedade angolana que estejam ligadas as artes. Quer nos falar um pouco sobre este Movimento? LD: O Movimento LevArte foi criado no sentido de dar voz às artes. A certa altura o Kardo Bestilo (o escritor do controverso e fundador do movimento) sentiu que havia necessidade de Luanda ter uma casa só para as artes e em especial à promoção da leitura. Não é que já não houvesse, mas era preciso fazer mais. É assim que surge este projecto que não é apenas para Luanda até porque já estivemos em algumas províncias do país, estamos no Brasil e pensamos internacionalizá-lo e dinamizá-lo cada vez mais. Mas estava eu a dizer, que este Movimento foi criado para massificar e promover a cultura nacional, não só no que diz respeito à literatura, mas também às outras artes: pintura, música, teatro, dança e de todo tipo de arte que seja de facto parte integrante da cultura nacional e não só. Fazemos tertúlias e temos também a MESA BICUDA de que falaste. Esta mesa é na pratica um espaço de entrevista onde se partilha para além da experiência profissional e artística dos convidados a sua alma, no fundo, os seus sonhos, os seus obstáculos, as suas crenças e a fé que o impele a continuar. É importante realçar que nesta mesa pode-se sentar qualquer pessoa desde que se sinta confortável para revelar a sua história pessoal a um grupo de nossos convidados e também, responder às perguntas dos mesmos (com os “riscos” que daí podem advir). SC: E quem já esteve na sua “MESA BICUDA”? LD: Olha a nossa mesa tem sido muito bem frequentada, qualitativa e quantitativamente, por diferentes personalidades: o Armindo Laureano apresentador do Zimbando, Kanguimbo Ananás que é escritora, o João Melo que é escritor, Joel Sérgio escritor, o Mário Bragança que é escritor, a Lukenia Gomes que é actriz e apresentadora do Flash, o Walter Ananás que é músico, a Aminata Gourgel que é actriz, a Dina Simão apresentadora do Sexto Sentido, Ana Silva jornalista do NovoJornal, a Gersy Pegado que é cantora das Gingas, Lukeny Fortunato Bamba apresentador do Artes ao Vivo, Kardo Bestilo escritor do Controverso, Poeta dos Pés Descalços declamador e poeta, Kool Kléver músico do hip hop, Feliciano Mágico operador de câmara da TPA,. Já estiveram lá várias pessoas da nossa sociedade, mas obviamente que também já passaram por lá algumas pessoas menos conhecidas pelo público angolano, e que de alguma forma marcam a cultura luandense. SC: E que figura nacional e internacional gostaria de poder entrevistar na sua MESA? LD: Quanto a figura internacional gostaria de poder falar com a Oprah Winfrey, pelo seu percurso como ser humano, isto é, pela forma perseverante e tenaz como ela soube ultrapassar todos os obstáculos e sem esquecer o seu espírito solidário e filantropo. Com ela aprendi as regras da auto-aceitação, do auto-conhecimento e da auto-superação. SC: E a figura nacional que mais gostaria de ter na sua MESA? LD: Tenho mesmo que responder esta pergunta? SC: Sim, se não se importasse agradecia que respondesse! LD: E se eu não quiser responder? Risos… SC: Não é obrigada. LD: Ok. Eu dou uma meia resposta. Há uma pessoa em particular que gostaria entrevistar na MESA BICUDA, mas infelizmente pela relevância que tem na sociedade angolana talvez não o consiga ter para já. Mas gostaria de poder ter o privilégio de ter na Mesa Bicuda TODOS os líderes angolanos, que de alguma forma se sintam abertos a partilhar experiência de vida com o público presente. É preciso que os jovens conheçam a história da boca de quem a fez. SC: Respondeste à minha pergunta? LD: Hahahahahaaa. Acredito que sim. Depois de uma pequena pausa para atender um telefonema, mudamos de assunto e falamos e começamos a falar de Deus, de Fé e de Amor. SC: Escreveu a Aldeia de Deus. Acredita em Deus? LD: Acredito em Deus, aliás, não posso conceber uma vida sem fé em Deus. Tudo faz sentido quando se deposita a nossa vida nas mãos de Deus, agindo por devoção e desapegado dos resultados. Na Aldeia de Deus a fé é o principal impulsionador da vida e do Ser. Como dizia Martin Luther King: Suba o Primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas de o primeiro passo”. SC: No seu livro há uma busca pelo Dharma? O que é o Dharma? LD: Na Aldeia de Deus há uma luta entre o Ser e o Parecer. A busca do Ser, em detrimento do parecer, passa necessáriamente pela libertação do Karma. Este karma é no fundo o ego excessivo que não nos permite vêr o sublime que desenrola num mundo paralelo ao mundano. O que vale ser vaidoso e viver na luxúria, no mundanismo se ao pó voltaremos todos? Olha, um dia um amigo, preocupado que eu me pudesse perder, disse-me o seguinte: Quando os guerrilheiros romanos regressavam a Roma vitoriosos das batalhas, com muita pompa e circunstância, havia sempre ao lado dele uma pessoa cuja única tarefa era gritar-lhe ao ouvido “cuidado com o ego, não te deixes contaminar”. Isto para dizer que a busca do Dharma é constante, e que é uma decisão diária. Só é possível atingirmos o Dharma se realmente deixarmos de lado todos estes atributos que mais não são do que meras armadilhas para fugirmos à missão divina. SC: A sua crença em Deus é exactamente ao contrário do pensamento daquele que foi o ultimo premio Nobel português: José Saramago. Quer comentar? LD: Em relação a esse assunto, há uma frase de Saramago que para mim faz-me acreditar que ele sempre buscou Deus: Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro. Desta forma, Saramago que dedica uma vida a buscar Deus, mas esqueceu que os sinais de Deus apenas são visíveis com o coração. Mas de qualquer forma, foi um dos autores que num mundo onde parece mal usar publicamente a palavra Deus, trouxe o nome de Deus e a Bíblia para a ribalta. Saramago no fundo buscava Deus incansavelmente mas talvez lhe faltasse ver com a fé de uma criança. SC: Dizes que Saramago faz ou fez uma interpretação errónea da bíblia. Agora eu pergunto-te. A própria bíblia também não é uma interpretação de pessoas? Não foram os homens que a escreveram? Quem nos dá a certeza de que é o pensamento de Deus que realmente está por detrás da escrita da bíblia? E ainda: Já que ela foi escrita a milhares de anos e foi traduzida em muitas línguas, que garantias você tem de que ela foi de facto traduzida tal e qual como foi escrita no passado? LD: Sabes…Em relação a isto tenho que te dizer que pego nas palavras de um amigo meu, que certa vez disse-me o seguinte: “Não fales de algo que ainda não tens o total conhecimento. Leia a bíblia de uma ponta a outra e depois volta a ler e depois volta a estudá-la”. E eu concordo com estas palavras. Mas há algo que eu também faço para continuar acreditar na bíblia, deixando que ela própria se vá revelando, numa atitude de a deixar: orar em mim. Por exemplo há salmos que surgem em momentos difíceis e eu vou vivenciando a força destes, há ainda algumas letras de canções que têm mensagens bíblicas, ou poemas, ou livros... no fundo vou encontrando os tais sinais que Saramago teimava em não vêr. Humildemente reconheço que pouco sei da Obra de Deus, mas o pouco que sei, dá-me fé para continuar a procurar a sabedoria divina, não só na bíblia, mas também, em outros textos sagrados como a Canção do Senhor – Bhagavad Gita. SC: Como escritora que é acha que Saramago mereceu o Premio Nobel da Literatura? LD: Escritora? Risos…Eu ainda não me considero uma escritora, sou apenas uma iniciante, como tal não posso, atestar se o prémio foi bem entregue. Mas prémios à parte, há que reconhecer a perseverança, a dedicação e o amor de Saramago pela escrita. SC: Lueji Dharma faz uso do Facebook. O que acha desta rede social? É viciada no Facebook? LD: Sim faço uso do Facebook, é uma excelente ferramenta de partilha de informação e de comunicação. Passo algum tempo interagindo com amigos e com familiares que vivem ou estão longe de mim e isto é que faz o Facebook ser algo único. Alem disso também acabo por interagir com outros amantes das artes e da literatura, com quem partilho a busca pelo conhecimento. SC: Já ouviu falar de um grupo de angolanos no Facebook conhecidos como Revolucionários Ciberneticos? LD: Quem é angolano e está no Facebook certamente que conhece, como também os conhece. SC: E que tem a dizer sobre eles? LD: O que posso dizer é que o Facebook tem sido neste momento o maior palco de debates e diálogos entre angolanos do mundo inteiro de diferentes gerações e passados. É uma verdade incontornável e impossível de contrariar. Tem sido um veículo de exercício de cidadania que uns usam de forma construtiva, outros usam de forma aleatória e abusiva. A alguns tem aproximado na defesa de ideais e convicções a outros tem separado pelo uso abusivo de ofensas verbais conotadas a atitudes de intolerância racial e política. Esperemos que o balanço final deste diálogo cibernético seja o mais positivo para os angolanos. SC: Como qualificaria a juventude angolana? LD: A juventude angolana na sua maioria é ávida por conhecimento, bastante persistente e autodidacta. Desde que descobri que muitos jovens angolanos aprendem a usar programas de informática pelo youtube, fiquei rendida à capacidade de busca do conhecimento. SC: Gosta de música? LD: Gosto um pouco de todo tipo de música, mas ultimamente tenho estado a cultivar o gosto pela música clássica. SC: E o Kuduro? LD: Gosto deste estilo músical, por de alguma forma gravar para a posteridade em letras simples a vivência de Luanda e em especial dos musseques. Quanto à dança quase acrobática em si…risos…risos…danço sim, não sou “uma craque” mas dou uns bons toques. SC: E qual é o seu prato preferido? LD: Gosto de caldo de peixe com todos os seus ingredientes (batata doce, mandioca, jindungo, limão, e farinha) SC: Caldo? LD: Sim, do caldo de peixe. Mas também gosto de bacalhau com nata, o mufete e o funje com moamba de galinha. SC: Bebe álcool? LD: Aprecio vinho tinto especialmente a Casta Syrah. SC: Pratica actividade física? LD: Gosto de correr e ginásio. SC: Qual é o seu clube preferido? LD: Não tenho. SC: E qual é a figura angolana e internacional que mais admira? LD: Internacionalmente, já disse que gosto da Oprah, mas não posso deixar de referir um grande mentor africano da luta pela liberdade e contra o racismo: Nelson Mandela. A nível nacional prefiro não revelar. SC: considera-se uma mulher bonita? LD: Considero-me uma mistura equilibrada entre físico, inteligência e coração. Levo a vida com grande sentido de humor. SC: É uma mulher muito linda e com um corpo de cortar a respiração. Deve ser muita assediada? LD: Nem por isso. SC: Tem namorado? LD: Não. SC: Estamos a terminar esta entrevista e quero agradecer esta oportunidade e disponibilidade. Se quiser dizer algo que eventualmente não tenha dito, mas que gostaria de dizer…tenha a bondade. LD: Agradeço desde já o prazer desta conversa e as questões que me colocou. Na Mesa Bicuda pergunto sempre para finalizar qual o maior sonho do convidado, porque acredito que somos do tamanho dos nossos sonhos; gostava de incentivar a todos os que lerem esta entrevista a nunca desistirem de concretizar os seus sonhos, pois eles são importantes para o progresso do mundo e de todos nós. E ainda bem que não me perguntaste qual o meu maior sonho? (muitos risos)

O Regresso da Rainha Njinga de John Bella

Saudações literárias a todos os presentes Antes de tudo, gostaria de agradecer ao anfitrião deste momento cultural pela sua dedicação, persistência e sacrifício na missão de promover e fazer literatura em Angola, em especial, nas áreas da poesia, declamação e historiografia tradicional e por outro lado, no seu empenho em impulsionar novos valores literários com o objectivo maior de instituir uma angolanidade indispensável ao desenvolvimento. (não querendo entrar no lado político do deputado Jorge Marques Bela uma vez que a entidade presente na sala é o Escritor e Professor Jonh Bella saltarei para a parte literária). Assim sendo, conheci John Bella no lançamento do meu livro e desde então me interessei pela obra deste autor. Curiosa tentei angariar alguma das suas obras: Água da Vida, Panelas cozinharam Madrugadas, A Canção Mágica que repetidamente me disseram estar esgotados, entre sempre um rasgado elogio dos interlocutores ao nosso autor. Todos conheciam John Bella e alguns até declamavam os seus poemas. Este reconhecimento pode não ter o glamour de um Nobel mas é para mim e muitos presentes nesta sala motivo de orgulho que nos faz vir prestar homenagem merecida. Que mais pode desejar um escritor do que ter a sua obra lida, declamada e até fotocopiada (como acabei fazendo juntamente com muitos outros)? Poderá haver maior prova do seu sucesso? Durante o percurso desta amizade literária acabei tendo a oportunidade de ter pela primeira vez em minha mão uma obra do autor: Os primeiros passos da Rainha Njinga e agora o segundo o Regresso da Rainha Njinga, o qual acaba de nascer… Neste Romance Histórico John Bella parece ter sido transportado da época da Rainha Njinga para os nossos dias com a responsabilidade histórica de fazer constar factos e descrições de uma época marcante na constituição de Angola como a conhecemos. Quem lê os primeiros passos da Rainha Njinga e agora o Regresso da Rainha Njinga sente-se transportar para esta dimensão espácio-temporal do povo Ambandu a fim de vivenciarmos uma verdade histórica tradicional com os olhos de quem vê: Os detalhes dos momentos, as descrições vívidas dos comportamentos, gestos e feições, os cheiros da terra, do capim, as visões das paisagens, os rituais e mnemónicas de um povo… tudo nos envolve para nos fazer crer que já não estamos a ler mas a presenciar cada momento como se parte da integrante da história fôssemos. A leitura deixa de ser leitura para ser uma realidade vivenciada como uma tela dotada de vida, onde tudo tem uma autenticidade inexcedível. O ontem passa a Aqui e Agora! E Aqui e Agora em jeito de excursão conhecemos o território do Ndongo reconhecendo justificações de uma toponímia e costumes que até hoje permanecem ( Cacuaco, Kinfangondo, Caxito…) Mais uma viagem relatada onde a destemida e sábia rainha Njinga exibe dons de liderança pela congregação da sabedoria de dois mundos oponentes (cristão e xamânico). Sem se intimidar com a força guerreira dos xinguilamentos xamânicos da terra ou com a tecnologia bélica das cruzadas cristãs Njinga flutua numa outra dimensão onde a mente encerra o coração e inspira a confiança indispensável ao séquito de seguidores que angaria dos dois lados. Bebendo de ambos os mundos, constrói um novo – o reino de Njinga Mbande- onde a fé amparada por seu pai o patriarca da Nação a faz brilhar tal qual estrela polar no breu da noite. À semelhança da rainha de Sabá Njinga percorre o país, entre ofertas e gastronomia típica de cada sobado, escondendo a agenda militar e de estratégia governativa que nos momentos de solidão desenha com o seu falecido pai. Em Lukala é recebida “ com pompa e circunstância. Tinham muito para dizer. A mbanza do Soba Samba a Lukala estava em festa. A multidão juntou-se à entrada da sanzala, onde organizaram a kizomba. Muita bebida e comida da terra. As raparigas, de vestes apropriadas para a ocasião; trajavam saia de ráfia e outra ráfia que lhes cobria o peito. Madimba, kisanji e outros instrumentos musicais. O som das cornetas, feitas de cornos de antílopes, despertava a curiosidade nos populares circunvizinhos; estes vinham juntar-se à festa. As músicas sucediam-se, umas após outras, com variadíssimos ritmos. A festa continuou, até ao dia seguinte.” (Regresso da Rainha Njinga, John Bella) No momento da chegada, talvez por estar exausta da viagem, Njinga não se reuniu com os Makota para os informar do resultado das negociações. Só depois então, iria ter com o irmão Ngola a Mbande, que a enviou como emissária nas negociações com os portugueses, para a paz no Reino do Ndongo. Os anos de vida que lhe pesavam na sua soberana sabedoria fazem-na saber confiar desconfiando. Perder o homem da sua vida e o filho assassinados às mãos do irmão Ngola remeteram-na para momentos entre a vida e a morte, tendo apenas os desígnios da nação lhe entregue pelo pai a feito ressuscitar para esta missão divina de buscar a libertação. Perdera-se a jovem apaixonada guerreira e ficara a madura Njinga que engole o orgulho e a raiva para servir de negociadora entre os invasores e o Rei Ngola seu irmão. Aceita assim a identidade portuguesa crista sob o nome de D. Ana de Sousa pois acima do desejo de justiça sobrepunha-se os desígnios dos povos prestes a degladiarem-se pela capital S. Paulo de Luanda. Já o seu irmão cego pelo poder e déspota dificulta o trabalho de diplomacia que Njinga enceta, por considerar estar acima de qualquer lei. Apartados pelo carácter e por esta tomada do poder pela força Njinga não desiste pois sabe que a sua sabedoria não lhe foi entregue pelos homens mas por entidades superiores. Angustia-se com a eminência de uma guerra que arrasará o seu povo dado o poder bélico que os invasores demonstram e a arrogância e falta de estratégia do Soberano ilegítimo, seu irmão. Os sofrimentos infligidos aos milhares de escravos e as mortes vãs levam-na a agir como soberana legítima reunindo todas as entidades representativas do sobados do rio Kwanza em concílio: “Imaginem vocês, que as dificílimas conversações que desempenhei em Loanda, o tratado que assinei, até certo ponto, deveras vantajoso para nós, ele parece desvalorizar, apenas pela sua árdua ambição pelo poder! – dizia ela, decidida – Mas não deixarei que isso aconteça! Ele não pode continuar a colocar a vida de todos os mundongo assim em risco. Vocês, não fazem ideia do que são capazes os brancos, quando pretendem investir numa raça que não é a sua. Apercebi-me de horrores que foram praticados contra um povo chamado os Maia. Disse-me um missionário que, numa altura em que eu teria por aí, meus vinte e quatro anos de idade, atacaram e exterminaram aquela gente em Kuzgo. Era este talvez, o nome da mbanza principal daquele povo. E vejam que isso aconteceu, depois de anos antes, os terem hospedado com todas as mordomias. É assim, ou de maneira mais cruel, que eles tratam os humanos. E o pior, muitas vezes, com a cumplicidade dos missionários cristãos!” Descrito o cenário Njinga partilha a estratégia de libertação de Angola do colono pelo recurso a um plano de sacrifícios e sacrificados, onde escravos transforma-se em moeda de troca. Aproveitando o tempo de paz garantido pelo acordo firmado com o rei de Espanha em São Paulo de Luanda Njinga refaz, à revelia dos dois reinados, um exército demonstrado destreza na Arte da Guerra. Aceitando com astúcia a esmola de uma identidade portuguesa e cristã, o sacrifício do seu povo à escravatura e a subserviência a um Rei ilegítimo, Nzinga assume-se como a líder que traçará o caminho da Libertação de Angola. Caso não conhecesse o autor neste presente contemporâneo atrever-me-ia a dizer que ele fora o eterno e fiel acompanhante (amante) de Njinga Mbande em todo seu percurso de vida: conhecendo-a desde o seu nascimento, a sua primeira paixão, a perda da sua virgindade, à sua primeira batalha ao lado de seu pai o Rei Ngola Kiluanje e às grandes desilusões que vou manter secretas … aguarda-se talvez nos “Últimos Passos da Rainha Njinga” a morte desta rainha que John Bella, seu eterno apaixonado platónico, teima em não fazer acontecer. Obrigada John Bella por mais este momento de angolanidade literária, em que se faz justiça às heróinas que Angola possui. Bem haja! 5 de Novembro de 2012, Luanda (União dos Escritores de Luanda) Lueji Dharma Nzambi é Amor…

Partícula de Deus

O sol crescia radiante naquele fim de dia. Magnânimo expandia-se sobre o véu da temperatura. Oh mar de raios libertos nestas partículas de Deus que calmamente percorrem céus para no finito se despenharem. E neste finito onde nos encontramos somos todos partículas de Deus encarnados nesta matéria que vida após vida pretende Ser a perfeição. Coberto por um manto de terra e lixo o diamante jaz esquecido nas trevas do desconhecimento. Buscai e acharás! Mas não te iludas buscando lá fora. No silêncio pergunta: - Quem sou Eu? – e após a pergunta dirige a tua mão para quem és tu? Agora que fizeste movimento. Já sabes quem és tu? Não és o cerébro, o pescoço, a boca, os pés ou a barriga. És o coração! Intuitivamente e até desconhecendo a fisionomia sabes que és o coração. Porventura já observaste os quadros que pintores iluminados deixaram ao teu dispor para que te possas encontrar? O dedo indicador aponta o caminho para a elevação – o coração - a partícula de Deus comum a todos nós. O tesouro a ser descoberto e que nos faz todos à semelhança de Deus.