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domingo, 3 de março de 2013

Lueji Dharma entrevistada por Sérgio Conceição

Antes de mais quero agradecer a Lueji Dharma pela oportunidade e a disponibilidade em aceder conversar comigo. É um privilégio conversar consigo. Sérgio Conceição (SC): A primeira pergunta que lhe faço é a seguinte: Quem é a Lueji Dharma? Lueji Dharma (LD): Quem agradece sou eu e o privilégio também meu por ter sido escolhida para falar consigo neste teu espaço de entrevista. Bem. Sou uma mulher que nasceu no conturbado ano de 1977 na província da Lunda Norte. Aos 7 anos entretanto tive que “emigrar”para Portugal onde estive até 2006 altura em que volto a Angola. Sou uma pessoa normal, que faço um esforço por aceitar todos, sem perder-me a minha identidade e a minha liberdade. Embora reservada, acabo por gostar de viver envolvida em ambientes de cultura e arte. SC: Como é que foi esta mudança da Lunda Norte para Portugal? Não deve ter sido fácil não é? LD: Não foi fácil, pelo contrário, foi de uma dificuldade imensa. Desde logo teve que haver uma readaptação da família que penso nunca ter sido conseguida. No regresso perderam-se laços familiares, culturais e sociais impossíveis de reparar. Embora a comunidade africana na Madeira tentasse manter-se unida e conservar valores, confesso que nós jovens retornados sentíamo-nos deslocados. Esse vazio em alguns levou a situações problemáticas (alcool, suicídio, drogas...), em mim criou, uma pessoa bastante introspectiva, desejosa de conhecimento e muito ciente do mundo ao meu redor. Fechava-me muitas vezes no meu quarto e punha-me a ler e a escrever, para tentar entender melhor as razões por detrás de tanta injustiça. Só isto me ajudava a esquecer e a passar o tempo. Embora me tenha deparado com alguns espisódios de intolerância racial e cultural (confesso que, em geral, considero o povo madeirense acolhedor, solidário e empreendedor. Por isso, não me surpreendeu a lição de solidariedade e de reconstrução que a Madeira deu ao mundo após a “destruição” provocada pelas chuvas. SC: Entretanto aos 16 anos acontece-lhe algo que muda completamente a sua vida! LD: Um autêntico milagre! (risos) Numa altura onde as redes sociais como FB não existiam, e as livrarias desconheciam a literatura africana feita por africanos, acabei por receber uma prenda vinda dos céus, que ultrapassou as barreiras marítimas inerentes à vida numa ilha. Um casal de angolanos jogadores de handball do ASA foram viver para a Madeira ao serviço do Académico do Funchal. Este casal tornou-se parte da minha vida; estávamos praticamente todos os dias juntos, e de alguma forma me vi a reviver o lado angolano. E como eles sabiam do meu amor por livros ofereceram-me um livro de Pepetela em 1973 (na altura tinha 16 anos). Escusado será dizer que devorei o livro numa semana, e vivi momentos indiscritíveis, que até então, não tinha vivido em outros autores que lera: Júlio Diniz, Eça de Queiroz, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner, Milan Kundera, Sartre, etc. O livro começa com “Lueji voltou ao lago da sua infância”, e nada pode ser mais verdadeiro que esta frase. E neste regresso ao lago da minha infância identifiquei uma África com identidade, tradição e cultura. Começo a perceber com a leitura deste livro o que era cultura africana, as suas raízes, a vivência, os costumes, a rebelar-me contra os dogmas difundidos pelos filmes e novelas, onde o africano é sempre apresentado como o escravo, o acessório da história e aquele que acaba sempre por morrer. Mas para além desta quebra das regras do preconceito global, Pepetela faz cair mais um tabu ao ter como figuras principais duas mulheres africanas separadas por 4 séculos de história. Numa peça literária extremamente arrojada Pepetela deita abaixo tabus raciais e recria um Império onde a mulher é livre de escolher e de ser detentora do poder! SC: Entretanto aos 18 anos vai estudar Arquitectura em Lisboa? LD: É verdade. Por força das circunstâncias tive que ir para Lisboa estudar, pois o curso que escolhi não existia na Ilha da Madeira. Mais um processo migratório que marca mais uma fase da minha vida. Desta vez, teria que viver sozinha na metrópole, uma cidade desconhecida onde tudo era muito mais agressivo que a pacata cidade do Funchal. Acabei por partilhar uma casa com uma amiga que hoje também está em Luanda. Esta mudança, embora com algumas dificuldades pelo caminho, foi enriquecedora para a entrada na vida adulta. Ao fim de 6 meses já estava enquadrada na vida académica usufruindo das dificuldades inerentes ao estudo, como também, da vida nocturna lisboeta (em especial o Bairro Alto com os seus milhentos bares e as festas da Universidade). Destes momentos de rebeldia, recordo com destaque os passados a escrever e a debater filosofia na Rua do Mezcal com a minha grande amiga Carmo. Ainda guardo alguns textos com estas conversas metafísicas (muitos risos). Mas ainda assim nunca deixei de estudar, sempre fui responsável no que toca ao cumprimento dos meus objectivos académicos. Mas também não deixei de viver. Tentei manter algum equilíbrio entre viver e estudar (nada fácil!). SC: E a escrita ficou para traz? LD: Não, pelo contrário. Este gosto começou a intensificar-se cada vez mais, porque mesmo nas noitadas que fazíamos andava sempre com caderno e a certa altura, isolava-me em algum canto, para passar para o papel aquelas experiências e vivências. Escrevia com a ânsia de perpetuar aqueles momentos, as amizades e aqueles interlocutores. A vida era a minha maior inspiração. SC: Em 2006 viaja para Angola… LD: Sim e por apenas vinte dias. Mas foram 20 dias fantásticos e de muita adrenalina. Revi a família, amigos, a gastronomia:o funji com moamba de galinha, o mufete, o caldo, o calulu mas também investiguei e estudei a realidade e a sociedade angolana. Foram 20 dias produtivos onde acabei por visitar várias localidades de Angola, nomeadamente em Benguela e Lunda Sul. O retorno a Portugal foi feito com a certeza de um regresso definitivo a Angola. Na altura, fui incompreendida (até por mim... mtos risos) pela decisão profissional, familiar e pessoal, mas acredito que com o passar do tempo, será entendível as razões desse acto aparentemente inexplicável. Surge o primeiro livro. Depois de muito trabalhar e fazer uma pós graduação em sistemas de Informação Geográfica e Historia Regional Local Lueji Dharma volta finalmente a Luanda para lançar o seu primeiro livro - Uma história de amor à procura de um final feliz. LD: É um ensaio onde procuro expressar/falar do poder do amor e da opção de amar, apesar das dificuldades e adversidades que as pessoas enfrentam para continuar a acreditar nessa força que movimenta o mundo. É uma ficção, em que é realçado, acima de tudo, a necessidade de te entregares ao amor sem medo de sofrer ou de condenações. O amor é indispensável à busca pela felicidade, sendo, por isso, um dos temas em que muito medito e que decidi partilhar pela primeira vez com os leitores. SC: Depois deste livro outros projectos ligado as artes surgiram em sua vida; um deles e na qual faz parte até agora é Movimento LevArte onde tem uma rubrica, A MESA BICUDA, e que nela entrevista pessoas da sociedade angolana que estejam ligadas as artes. Quer nos falar um pouco sobre este Movimento? LD: O Movimento LevArte foi criado no sentido de dar voz às artes. A certa altura o Kardo Bestilo (o escritor do controverso e fundador do movimento) sentiu que havia necessidade de Luanda ter uma casa só para as artes e em especial à promoção da leitura. Não é que já não houvesse, mas era preciso fazer mais. É assim que surge este projecto que não é apenas para Luanda até porque já estivemos em algumas províncias do país, estamos no Brasil e pensamos internacionalizá-lo e dinamizá-lo cada vez mais. Mas estava eu a dizer, que este Movimento foi criado para massificar e promover a cultura nacional, não só no que diz respeito à literatura, mas também às outras artes: pintura, música, teatro, dança e de todo tipo de arte que seja de facto parte integrante da cultura nacional e não só. Fazemos tertúlias e temos também a MESA BICUDA de que falaste. Esta mesa é na pratica um espaço de entrevista onde se partilha para além da experiência profissional e artística dos convidados a sua alma, no fundo, os seus sonhos, os seus obstáculos, as suas crenças e a fé que o impele a continuar. É importante realçar que nesta mesa pode-se sentar qualquer pessoa desde que se sinta confortável para revelar a sua história pessoal a um grupo de nossos convidados e também, responder às perguntas dos mesmos (com os “riscos” que daí podem advir). SC: E quem já esteve na sua “MESA BICUDA”? LD: Olha a nossa mesa tem sido muito bem frequentada, qualitativa e quantitativamente, por diferentes personalidades: o Armindo Laureano apresentador do Zimbando, Kanguimbo Ananás que é escritora, o João Melo que é escritor, Joel Sérgio escritor, o Mário Bragança que é escritor, a Lukenia Gomes que é actriz e apresentadora do Flash, o Walter Ananás que é músico, a Aminata Gourgel que é actriz, a Dina Simão apresentadora do Sexto Sentido, Ana Silva jornalista do NovoJornal, a Gersy Pegado que é cantora das Gingas, Lukeny Fortunato Bamba apresentador do Artes ao Vivo, Kardo Bestilo escritor do Controverso, Poeta dos Pés Descalços declamador e poeta, Kool Kléver músico do hip hop, Feliciano Mágico operador de câmara da TPA,. Já estiveram lá várias pessoas da nossa sociedade, mas obviamente que também já passaram por lá algumas pessoas menos conhecidas pelo público angolano, e que de alguma forma marcam a cultura luandense. SC: E que figura nacional e internacional gostaria de poder entrevistar na sua MESA? LD: Quanto a figura internacional gostaria de poder falar com a Oprah Winfrey, pelo seu percurso como ser humano, isto é, pela forma perseverante e tenaz como ela soube ultrapassar todos os obstáculos e sem esquecer o seu espírito solidário e filantropo. Com ela aprendi as regras da auto-aceitação, do auto-conhecimento e da auto-superação. SC: E a figura nacional que mais gostaria de ter na sua MESA? LD: Tenho mesmo que responder esta pergunta? SC: Sim, se não se importasse agradecia que respondesse! LD: E se eu não quiser responder? Risos… SC: Não é obrigada. LD: Ok. Eu dou uma meia resposta. Há uma pessoa em particular que gostaria entrevistar na MESA BICUDA, mas infelizmente pela relevância que tem na sociedade angolana talvez não o consiga ter para já. Mas gostaria de poder ter o privilégio de ter na Mesa Bicuda TODOS os líderes angolanos, que de alguma forma se sintam abertos a partilhar experiência de vida com o público presente. É preciso que os jovens conheçam a história da boca de quem a fez. SC: Respondeste à minha pergunta? LD: Hahahahahaaa. Acredito que sim. Depois de uma pequena pausa para atender um telefonema, mudamos de assunto e falamos e começamos a falar de Deus, de Fé e de Amor. SC: Escreveu a Aldeia de Deus. Acredita em Deus? LD: Acredito em Deus, aliás, não posso conceber uma vida sem fé em Deus. Tudo faz sentido quando se deposita a nossa vida nas mãos de Deus, agindo por devoção e desapegado dos resultados. Na Aldeia de Deus a fé é o principal impulsionador da vida e do Ser. Como dizia Martin Luther King: Suba o Primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas de o primeiro passo”. SC: No seu livro há uma busca pelo Dharma? O que é o Dharma? LD: Na Aldeia de Deus há uma luta entre o Ser e o Parecer. A busca do Ser, em detrimento do parecer, passa necessáriamente pela libertação do Karma. Este karma é no fundo o ego excessivo que não nos permite vêr o sublime que desenrola num mundo paralelo ao mundano. O que vale ser vaidoso e viver na luxúria, no mundanismo se ao pó voltaremos todos? Olha, um dia um amigo, preocupado que eu me pudesse perder, disse-me o seguinte: Quando os guerrilheiros romanos regressavam a Roma vitoriosos das batalhas, com muita pompa e circunstância, havia sempre ao lado dele uma pessoa cuja única tarefa era gritar-lhe ao ouvido “cuidado com o ego, não te deixes contaminar”. Isto para dizer que a busca do Dharma é constante, e que é uma decisão diária. Só é possível atingirmos o Dharma se realmente deixarmos de lado todos estes atributos que mais não são do que meras armadilhas para fugirmos à missão divina. SC: A sua crença em Deus é exactamente ao contrário do pensamento daquele que foi o ultimo premio Nobel português: José Saramago. Quer comentar? LD: Em relação a esse assunto, há uma frase de Saramago que para mim faz-me acreditar que ele sempre buscou Deus: Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro. Desta forma, Saramago que dedica uma vida a buscar Deus, mas esqueceu que os sinais de Deus apenas são visíveis com o coração. Mas de qualquer forma, foi um dos autores que num mundo onde parece mal usar publicamente a palavra Deus, trouxe o nome de Deus e a Bíblia para a ribalta. Saramago no fundo buscava Deus incansavelmente mas talvez lhe faltasse ver com a fé de uma criança. SC: Dizes que Saramago faz ou fez uma interpretação errónea da bíblia. Agora eu pergunto-te. A própria bíblia também não é uma interpretação de pessoas? Não foram os homens que a escreveram? Quem nos dá a certeza de que é o pensamento de Deus que realmente está por detrás da escrita da bíblia? E ainda: Já que ela foi escrita a milhares de anos e foi traduzida em muitas línguas, que garantias você tem de que ela foi de facto traduzida tal e qual como foi escrita no passado? LD: Sabes…Em relação a isto tenho que te dizer que pego nas palavras de um amigo meu, que certa vez disse-me o seguinte: “Não fales de algo que ainda não tens o total conhecimento. Leia a bíblia de uma ponta a outra e depois volta a ler e depois volta a estudá-la”. E eu concordo com estas palavras. Mas há algo que eu também faço para continuar acreditar na bíblia, deixando que ela própria se vá revelando, numa atitude de a deixar: orar em mim. Por exemplo há salmos que surgem em momentos difíceis e eu vou vivenciando a força destes, há ainda algumas letras de canções que têm mensagens bíblicas, ou poemas, ou livros... no fundo vou encontrando os tais sinais que Saramago teimava em não vêr. Humildemente reconheço que pouco sei da Obra de Deus, mas o pouco que sei, dá-me fé para continuar a procurar a sabedoria divina, não só na bíblia, mas também, em outros textos sagrados como a Canção do Senhor – Bhagavad Gita. SC: Como escritora que é acha que Saramago mereceu o Premio Nobel da Literatura? LD: Escritora? Risos…Eu ainda não me considero uma escritora, sou apenas uma iniciante, como tal não posso, atestar se o prémio foi bem entregue. Mas prémios à parte, há que reconhecer a perseverança, a dedicação e o amor de Saramago pela escrita. SC: Lueji Dharma faz uso do Facebook. O que acha desta rede social? É viciada no Facebook? LD: Sim faço uso do Facebook, é uma excelente ferramenta de partilha de informação e de comunicação. Passo algum tempo interagindo com amigos e com familiares que vivem ou estão longe de mim e isto é que faz o Facebook ser algo único. Alem disso também acabo por interagir com outros amantes das artes e da literatura, com quem partilho a busca pelo conhecimento. SC: Já ouviu falar de um grupo de angolanos no Facebook conhecidos como Revolucionários Ciberneticos? LD: Quem é angolano e está no Facebook certamente que conhece, como também os conhece. SC: E que tem a dizer sobre eles? LD: O que posso dizer é que o Facebook tem sido neste momento o maior palco de debates e diálogos entre angolanos do mundo inteiro de diferentes gerações e passados. É uma verdade incontornável e impossível de contrariar. Tem sido um veículo de exercício de cidadania que uns usam de forma construtiva, outros usam de forma aleatória e abusiva. A alguns tem aproximado na defesa de ideais e convicções a outros tem separado pelo uso abusivo de ofensas verbais conotadas a atitudes de intolerância racial e política. Esperemos que o balanço final deste diálogo cibernético seja o mais positivo para os angolanos. SC: Como qualificaria a juventude angolana? LD: A juventude angolana na sua maioria é ávida por conhecimento, bastante persistente e autodidacta. Desde que descobri que muitos jovens angolanos aprendem a usar programas de informática pelo youtube, fiquei rendida à capacidade de busca do conhecimento. SC: Gosta de música? LD: Gosto um pouco de todo tipo de música, mas ultimamente tenho estado a cultivar o gosto pela música clássica. SC: E o Kuduro? LD: Gosto deste estilo músical, por de alguma forma gravar para a posteridade em letras simples a vivência de Luanda e em especial dos musseques. Quanto à dança quase acrobática em si…risos…risos…danço sim, não sou “uma craque” mas dou uns bons toques. SC: E qual é o seu prato preferido? LD: Gosto de caldo de peixe com todos os seus ingredientes (batata doce, mandioca, jindungo, limão, e farinha) SC: Caldo? LD: Sim, do caldo de peixe. Mas também gosto de bacalhau com nata, o mufete e o funje com moamba de galinha. SC: Bebe álcool? LD: Aprecio vinho tinto especialmente a Casta Syrah. SC: Pratica actividade física? LD: Gosto de correr e ginásio. SC: Qual é o seu clube preferido? LD: Não tenho. SC: E qual é a figura angolana e internacional que mais admira? LD: Internacionalmente, já disse que gosto da Oprah, mas não posso deixar de referir um grande mentor africano da luta pela liberdade e contra o racismo: Nelson Mandela. A nível nacional prefiro não revelar. SC: considera-se uma mulher bonita? LD: Considero-me uma mistura equilibrada entre físico, inteligência e coração. Levo a vida com grande sentido de humor. SC: É uma mulher muito linda e com um corpo de cortar a respiração. Deve ser muita assediada? LD: Nem por isso. SC: Tem namorado? LD: Não. SC: Estamos a terminar esta entrevista e quero agradecer esta oportunidade e disponibilidade. Se quiser dizer algo que eventualmente não tenha dito, mas que gostaria de dizer…tenha a bondade. LD: Agradeço desde já o prazer desta conversa e as questões que me colocou. Na Mesa Bicuda pergunto sempre para finalizar qual o maior sonho do convidado, porque acredito que somos do tamanho dos nossos sonhos; gostava de incentivar a todos os que lerem esta entrevista a nunca desistirem de concretizar os seus sonhos, pois eles são importantes para o progresso do mundo e de todos nós. E ainda bem que não me perguntaste qual o meu maior sonho? (muitos risos)

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