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terça-feira, 15 de setembro de 2009

Um ninho de cobras…

Ia abrir a pasta seguinte que dizia bibliografia, quando bateram à porta.
O seu cão correu para a entrada a ladrar. Quem seria? Já não se avisa antes de vir a casa dos outros! Oh Gente mal educada…
Dirigiu-se até porta e quase fez meia volta para trás: mas o toque na janela dava a entender que ele já a tinha a visto.
- Olá! – gritou com um ar parvo. Naquele momento lembrava-se do que o Rodrigo dizia sobre aquele colega dela. Ele é um “maluco mas dos grandes”…
-Não digas isso! – ele até é simpático…um bocado parvo…mas inofensivo!
-Lueji como estas? Desculpa-me vir sem avisar diz enquanto tropeça no tapete…e corrompe-me o ar com uma lufada de perfume do tipo “Old spice”.
-Ai nojo!!! – verbalizo bem alto a ideia do perfume em minha casa!
-Porquê?
-Parvoíces minhas…não ligues. Não te magoaste com esse equilibrismo todo para não cair…
- Não, não…dizes a sacudir o corpo franzino e o cabelo sebento, oleoso e com caspa cortado à frade. Tem mesmo um ar asqueroso penso para os meus botões…começo a inventar desculpas para o correr de casa
-estava a descansar…porque fui operada…
-Já sei…
-Olha eu vim cá para te dar apoio nesta hora triste…
-Ah obrigado! Com essas palavras por uns instantes pensei que ia morrer…balbuciei entre dentes.
-Não percebiiiii!
-Não ligues…vou deitar-me porque não consigo sentar e nem estar de pé!
-Está à vontade faz de conta que a casa é tua! – disse rindo-se da sua piada tão parva. Estava mesmo sem vontade para aquele homem labrego.
-Então…obrigado pela tua visita…disse deixando no ar um tom de Adeus e Vai-te embora!
Mas ele levantou-se e a dar um ar mais pesado ao corpo franzino untou as mãos no cabelo seboso, e de costas disse:
- Tu és uma pessoa estranha! Realmente o que dizem de ti é verdade…
- Como assim? Estranha?
-Pareces uma rosa mas tens espinhos!
-Como todas as rosas…ou seria uma rosa fora do padrão!!! Disse a rir-me da sua teoria.-E ele envergonhado da sua falta de clareza forçou a gravidade da sua voz fina:
- Não se sabe o que és…pareces sensível, desorientada, frágil…
-SIM!!!! Disse à espera que ele parasse de fazer tanta pausa e desenvolvesse logo o raciocínio.
-Mas és forte!
-Não tenhas dúvidas da minha força…a minha fé é inabalável…
-Mas tu não podes continuar só…disse caminhando em minha direcção. Tu precisas de alguém que cuide de ti…disse enquanto tentava passar a mão sebosa no meu cabelo.
-Hei…calma lá! Que é isso?! Acho que estás a confundir as coisas! retorqui de forma brusca retirando o braço da proximidade do meu corpo.
-Eu sou feliz como sou…
-Não admira que as pessoas falem de ti
-Que falem!
-Ai é? A secretária ANITIA diz que sabe que vais para a cama com tudo o que é homens! Ela diz que a tua casa é uma romaria…é só querer…
-Sério? E porque será que ela diz isso? Não te parece que ela te estava a dizer quem ela é? Não percebes que quando descrevemos o outro, em geral dizemos mais de nós do que do outro…
-Já sabes que aqui em Torres Vedras as pessoas da tua cor e os africanos em geral não são bem vistos. E tu ainda pensas que tens direito a fazer o que as pessoas normais fazem?
-Como? – explica bem isso…disse a controlar os impulsos homicidas que me consumiam…
-Sabes que tu pela condição de mulher solteira com a tua idade e africana deverias ter mais cuidado. Não podes ter tantas amizades masculinas, nem usar roupas modernas…devias ter uma vida mais recatada, arranjar um bom homem... Eu estou a ser teu amigo…senão nem te diria. Olha os motoristas e os fiscais já te consideram uma…
-Uma???
-Uma mulher…tu sabes…
-Olha! A única coisa que sei…é que eu sou o que sou. Não és tu e nem esse bando de hipócritas que me farão deixar de ser. No momento em que funcionar de acordo com as vossas mentes, comprem o caixão porque a Lueji morreu.
-És tão dramática! Só te quero ajudar…
-Ajudar? Ou vinhas cá tentar a tua sorte? Imaginavas-me fragilizada, triste e carente…a precisar de um ombro amigo…e incentivado pelas conversas picantes que tiveste com a secretária dos motoristas…
-Não…nada disso…
-Só te digo uma coisa: RUA!
-mas…
-Rua! Oh vida…só me calham imbecis…
-Ainda vais precisar de ajuda e não terás ninguém. Não percebes que ninguém gosta de ti…és uma falhada, uma perdida…
-Antes Maria Madalena que Judas…antes só que mal acompanhada, antes a morte que a vida em podridão…-Xau! E nunca mais voltes…disse enquanto fechava a porta com toda a força do mundo. Uma náusea percorreu-me o corpo. Aquele perfume e o seboso tinham me feito enjoar. Fui até à casa de banho e quase a perder os sentidos consegui vomitar…mas o enjoo não passava. Não conseguia forçar mais porque a posição e o esforço faziam pressão sobre a área operada. Vi-me a perder os sentidos, e desfalecer…

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