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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Intercâmbio Cultural Estados Unidos da América - Angola

1. Em primeiro lugar, quem é Lueji Dharma e como começa a sua relação com o Movimento Lev´Arte? Podia arranjar muitas definições e concepções para a definição da Lueji Dharma, mas posso dizer-te que este pseudónimo significa para mim o ressuscitar da arte em mim através da busca de Deus e da minha identidade cultural. Assim, Lueji provém do nome de uma rainha tchokwe natural da terra onde nasci. E Dharma é um nome indiano que representa a busca da divindade ou o caminho para a divindade superior. E nesta busca aprendi a confiar em mim e a ouvir à minha verdade interior que transpira na escrita e na partilha dos valores apreendidos com outros. Esta ligação à arte acabou por me levar ao Lev’arte para realizar a Mesa Bicuda – um espaço de diálogo entre jovens e pessoas que se destacaram na sociedade pelas suas acções. Foto – Movimento Lev’arte na visão artística do Jitta Criativo 2. Fale um pouco desta experiência nos EUA, o que é e como surgiu? O convite formulado pela Embaixada dos EUA na pessoa do embaixador Christopher McMullen em Luanda surge de uma vontade do povo americano em desenvolver laços com cidadãos de outros países de forma a buscarem entendimento humano e cultural. Este programa provém desde 1940 e surgiu inicialmente para os países da América latina. O convite da Embaixada dos EUA surge de forma inesperada mas com uma grande dose de reconhecimento do trabalho que tenho desenvolvido nas áreas do desenvolvimento humano através da arte. Trabalhos que faço de forma voluntariosa com o intuito de aprender e partilhar conhecimento e que nunca pensei ser passível de reconhecimento. Esse trabalho desenvolve-se em várias vertentes entre elas edição e produção de livros de autores angolanos, trabalho como mentor de jovens, produção de textos escritos com carácter social e respectiva publicação, bem como intervenção pública através das entrevistas em rádios, jornais, televisão e internet. Todo este trabalho foi realizado com o apoio de muitos amigos, do Movimento Lev’Arte e os meus colegas do GTRUCS. Gostava de aproveitar este momento para agradecer ao Francisco Sarmento, Kardo Bestilo, Joaquim Ribeiro, John Bella, Teresa Ferreira, Marcos Inglês, Esio, Pedro Bélgio, Mira Clock, Wilmar Tembo, Luis Jimbo, Joel Sérgio, Dadinho, Jitta Criativo, Mauro Yange, José Fernandes por terem constituído uma fonte de incentivo na minha vida fazendo-me acreditar que estava no caminho certo. Foto - O encontro com o Sr. Embaixador dos EUA em Luanda Christopher McMullen antes da partida para o intercâmbio cultural. 3. O que levou de Angola para mostrar os EUA? Apesar das limitações de peso acabei por viajar carregada de livros para os EUA. Na mala levei livros do Joel Sérgio, Mira Clock, Kiokamba e o Palavras do Movimento Lev’arte os quais foram muito bem recebidos tanto pela delegação dos países afro-lusófonos, bem como, pela embaixada de Angola nos Estados Unidos da América e pelos americanos. Trouxe também a Aldeia de Deus que é o meu último romance. Na mala vieram ainda algumas pulseiras em bambu feitas pelos nossos artesões. Levei ainda CD’s de musica do Esio e Yemba, bem como, uma prenda poética especial o CD de poemas “No Continente da Luta” do Marcos Inglês. Aproveitei ainda para promover a arte digital do Jitta Criativo que tem voluntariamente trabalhado para transformar a mentalidade dos jovens pelo uso de imagens com grande simbolismo. Por outro lado, tenho publicitado o site da Ebookangola e do Movimento Lev’arte para que mais americanos possam aceder a mais livros e cultura angolana. Por outro lado, levei também as perguntas e a curiosidade que muitos angolanos me colocaram e o peso da responsabilidade desta representação. 4. Em que tipo de actividades tem estado a participar? Esta visita teve um programa intensivo preparado pela organização não-governamental Cultural Vistas que cobre várias áreas de interesse em 3 estados dos EUA: Califórnia, Iowa e Florida e ainda a capital dos EUA Washington, Distrito de Columbia. As três semanas foram a percorrer este país enorme para conhecermos principalmente organizações não-governamentais que resultaram do envolvimento das comunidades americanas na solução dos problemas que consideravam graves: • Combate à delinquência juvenil através da criação de organizações para apoio aos jovens especialmente nos seus tempos livres – Boys and Girls Club of Greater Washington, Boys Scouts of Pensacola, Dc Children and Youth Investment Trust Corporation, San Diego Youth services, Sasha Bruce Youthwork, Urban Corps • Combate à Sida – Metro TeenAIDS • Aumento das habilitações literárias e artísticas entre os jovens – Outside the Lens • Redução do racismo e inclusão da diversidade cultural nas diferentes áreas do saber – National Society of Black Engineers Houve também tempo para irmos a casa de famílias americanas que de forma voluntária se dispuseram a preparar-nos uma refeição para que pudéssemos conhecer o seu quotidiano de forma mais concreta. De referir que o voluntariado nos EUA constitui actualmente um sector de carácter corporativo e que movimenta largos orçamentos provenientes na sua maioria de contribuições da sociedade civil. 5. Como classifica os níveis de conhecimento e aceitação da arte e cultura angolana por parte dos norte-americanos? Como se pode imaginar o desconhecimento é praticamente total. No entanto, verifiquei uma grande vontade de conhecer mais e de surpresa perante a dimensão e ancestralidade da cultura Bantu. O mais interessante é a vontade de visitarem o nosso país, de quererem ler mais da nossa história apesar da barreira da língua e a vontade de partilharem o seu conhecimento connosco. 6. Até que ponto o Movimento Lev´Arte está envolvido neste intercâmbio? Há algum envolvimento do Movimento Lev’arte mas talvez não ao nível que estamos habituados a estar em outros eventos. No entanto acredito que esta é uma nova experiência e uma grande oportunidade que se está a abrir a todos os que a queiram abraçar e que nos permitirá construir um movimento angolano cada vez mais em movimento, internacional e sem barreiras raciais, sociais, económicas ou linguísticas. Diz-se que onde há arte existe sempre espaço para a diversidade, liberdade e criatividade. 7. Que benefícios poderá este intercâmbio trazer para a arte angolana, que efeito espera deste intercâmbio no que concerne àquilo que é a responsabilidade social? Neste ponto posso afirmar que foram criadas pontes que já estão em funcionamento e que se baseiam em alianças criadas com a sociedade civil americana, bem como com a própria embaixada angolana nos EUA para a promoção da nossa arte. Neste momento e graças também à colaboração da nossa embaixada alguns dos nossos livros já estão em bibliotecas americanas (Washington D.C. e Iowa) que até a altura não possuíam qualquer livro de um angolano. Por outro lado, ficou o compromisso de enviar livros para essas bibliotecas de forma a aumentar o seu repertório sobre a nossa cultura. E todo este efeito pode ser alargado às diversas artes, bem como, a parcerias nas áreas que acima mencionei. A responsabilidade social é um tema que nos EUA está sempre na ordem do dia. Há por parte da comunidade uma necessidade de participar em todos os aspectos da vida social garantindo a satisfação das necessidades que o Estado não tem obrigação de suprir face ao seu ordenamento político-jurídico. Mas, na realidade a responsabilidade social é um dever de cada cidadão ou instituição pública e privada de actuar ao prol dos interesses, benéficos da sociedade em geral e idem de manter um equilíbrio na mobilidade social no sentido de promover o bem-estar da sociedade e idem do meio ambiente. Em suma, outro tema apimentado é que também está na ordem do dia é a quem compete esta responsabilidade social se ao estado, organizações sem fins lucrativos ou privadas ou até mesmo à comunidade… um tema que acaba na discussão do socialismo, capitalismo, federalismo. 8. Para finalizar, gostaria que nos falasse um pouco de seus projectos futuros e por fim deixasse uma mensagem de incentivo a todos os angolanos fazedores de arte. Neste momento já existem parcerias em curso que apenas aguardo respostas oficiais desses parceiros para poder divulgar. No entanto, gostava de reiterar a ideia de que estou disponível a todos os que queiram saber mais deste intercâmbio cultural ou que queiram participar activamente e de forma voluntária em programas de promoção da arte e literatura. É exemplo, neste título, a Luisa Ramos e a extinta editora europa-américa no envio de livros de Portugal para Luanda. Aos angolanos e fazedores da arte gostava de dizer que neste intercâmbio constatei que lêr, ver filmes, ouvir os outros é importante, mas nada melhor do que viver as diferentes realidades com os teus olhos. Assim pude constatar que apesar das diferenças abismais entre os dois mundos partilhamos uma matriz comum na crença num Deus criador, na perseguição das mesmas metas, sonhos, na persistência na busca da felicidade e nos valores familiares. Ter tido esta experiência nos Estados Unidos fez-me conhecer não só a realidade americana mas a mundial e o meu papel nela. Por outro lado, fez-me perceber que ainda tenho um grande percurso a percorrer para saber alguma coisa, no fundo “só sei que nada sei”. Assim, a mensagem que deixo aos fazedores da arte é que acima de tudo, primeiro busquem conhecer-se e serem autênticos de forma a que a vossa criatividade se possa manifestar com toda a intensidade. Segundo, recomendo espírito empreendedor, de persistência e voluntariado no fazer da arte de forma abnegada. Terceiro, e porque sou uma crente em Deus, procurem conhecer mais os outros antes de julgar; não descriminar mas sempre buscar a inclusão da diversidade, num espírito de amor ao próximo. Obrigada Mauro Yange pelas tuas perguntas e pela oportunidade de partilhar esta informação contigo e com os leitores do Jornal Cultural. Nzambi é Amor!

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