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sábado, 26 de janeiro de 2013

Parabéns Luanda... Voltar Plural

Texto: Lueji Dharma Imagem: Jitta Criativo Nesta cidade iluminada onde por vezes a luz falta e a água decide perder o caminho do cano e da torneira conseguimos estabelecer um contacto com a eternidade do ser. Cada intervalo de tempo é um teste a nós mesmos. À nossa resistência física, psicológica e humana. O barulho ensurdecedor de uma cidade que não tem hora de dormir deixa-nos a ansiar por um momento de silêncio. Ao contrário de outras cidades não é recomendável esperar por um momento de paz mas deves, conforme todo o ensinamento espiritual dos gurus da actualidade, carregar essa paz contigo constantemente. O Candongueiro que fura simulando o ataque ao teu carro, ao passeio e até à autoridade de um Maximbombo oferecendo como sacrifício vidas humanas deve provocar em ti uma calma irredutível que no máximo se pode descompor num palavreado menos digno seguido de um dedo erguido fora da janela. Pois é! Afinal a paz também tem momentos de trégua. A trégua que permite matar o ladrão que é apanhado nas teias dos becos sem saída e decide retirar-nos a paz roubando o pouco que temos e que pouco lhe serve numa vida perdida. Uma trégua que transforma homens vulgares em assassinos em grupo num ímpeto de saturação e busca de justiça que termina neste acto de pena de morte. Oh perdão que acabamos por não ter numa vida de sacrifícios que não se compadece de quem é pobre e amigo do alheio. Um perdão que negamos ao cordeiro mas que oferecemos ao jacaré. Como quando em vez de confiarmos na polícia receamos a gasosa e todo o diálogo irracional que daí pode surgir. É desgastante vergarmos à total injustiça. Mas que fazer quando não temos a fé de Daniel que depois de atirado à cova dos leões teve o apoio de “um anjo que fechou a boca dos leões, para que não lhe fizessem dano, porque foi achada nele a inocência”. Podes não ter a inocência de Daniel mas ao menos a confiança que os humilhados serão exaltados. Estes humilhados como esta criança menina que percorre os passos da mãe zungueira e chora por um colo nas costas vergadas ao sol e ao peso da mercadoria. Esta criança desnutrida, com ranho no nariz que chora de dedo na boca a amargura de uma profissão que não escolheu. Esta mãe que não ouve o choro de um filho. Todos nós os humilhados que percorremos estes passeios cobertos de mendigos que de tanto os vermos já os conhecemos. O que vive num jardim mostrando as partes púbicas, a mulher que anda com o lenço na cara, o que percorre luanda andando com a pressa de quem quer fiscalizar toda esta terra… são eles que nos forçam o olhar para o lado. Sim, todos nós olhamos para o lado fingindo não ver… É esta a Luanda dos humilhados que reaparece verde na marginal permitindo um resgatar de espaço público que nos revitaliza as baterias da paz. A paz interior obrigatória tem de ser reabastecida. E nesta pérola entre terra e mar surge este oásis que veio restaurar Luanda e instaurar um novo começo que construirá braços entre Torres de betão. Um verde pulmonar que se quer um tumor benigno contaminando este betão e asfalto que nos sepulta como homens e povo. O verde, a Natureza desponta atraindo os que buscam a paz e o bem-estar não se resignando às paredes do profissionalismo, do capitalismo e do lar. Oh momento de meditação ao som das ondas que batem sobre este tapete relvado que nos chama ao compromisso sério de sermos mais Paz. É sobre este relvado que por vezes entre corridas de manutenção física observamos a diversidade que habita esta Luanda cada vez mais internacional. Luanda não pode fugir a este novo papel de todo o mundo. África, Ocidente e Oriente todos se juntam sobre este tapete verde cruzando que nem formigas numa busca pela paz e pelo bem-estar. Aqui devoram-se gorduras e busca-se saúde. É nesta marginal que afasto o pensamento, sofrido na pele, que me impõem de que estamos numa cidade racista, violenta e à beira de um colapso social. O gato preto que passa por mim ronrona olhando com a inocência natural de um animal. Medo? Apenas da ignorância onde se alimentam as crenças que impedem esta paz de prosperar e a abundância de ser distribuída. A luta não deve ser contra o racismo ou contra um sistema mas sim contra a ignorância. Essa sim tem de ser combatida com a sabedoria da educação. É necessário Senhor um novo milagre! A multiplicação de bibliotecas, de livros e de leitores ávidos e criativos. É necessário um milagre de regressar à raiz do problema: a ignorância que grassa; e aos aproveitadores dessa ignorância. A esses a cova dos leões servirá de leito. Porque Voltaremos! Está escrito sob o empunhar do braço e sobre o signo de um Novembro Eterno que o Largo da Independência gravou. Um largo transformado em rotunda onde atravessar é a única forma de chegar, porque temos de Voltar à Luanda de todos e de cada um de nós. Esse é o nosso Voltar cada vez mais plural!

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