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Angola - Nação jovem e em busca da sua identidade histórica
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Mesa Bicuda
Um país existe em função dos seus limites geográficos delineados e protegidos. Mas uma Nação emerge de uma consciência comum de que todos somos parte do mesmo mundo, de um mesmo sonho e de uma identidade.
Esta identidade é construída através da leitura dos mesmos livros, do ver dos mesmos filmes e de ter um conjunto de valores sem os quais não sabemos ser.
É este o tema em debate nesta Mesa Bicuda onde o convidado Filipe A. Vidal esgrime os seus pontos de vista de acordo com o texto abaixo publicado.
Lueji Dharma
Introdução
Espaço e tempo dois sinais para estrada do infinito.
Estaremos nós no ano 2011?
Na generalidade subsiste uma definição da História como a ciência que estuda passado do homem.
Porém a história não se reduz tão e somente ao estudo deste passado, sendo que e como bem diz o Professor Ch. A. Diop,”é preciso estudar a história para que ela ilumine o futuro e se compreenda melhor o presente”. Esta asserção é correcta se nos ativermos a variável antropológica da Dinâmica Cultural por um lado e por outro lado a variável Quântica da Vida, sendo que o universo é ao mesmo tempo onda e partícula. E a estas duas variáveis podemos adicionar uma terceira, a variável Antropo -filosófica (da Mutabilidade da Vida) na compreensão da História.
Aliás Heraclito dizia que tudo mudo, excepto a mudança que tem por norma apresentar-nos com os mesmos pressupostos ou variáveis… e diz a sabedoria popular que ”a história se repete, só a forma é que muda”.
Deste modo a história é testemunha de toda vivência cósmica manifesta e imanifesta do universo, afinal “tudo é história”.
A história vem do grego HISTOR: “aquele que aprende pelo olhar” ou seja que sabe pelo testemunho ocular ou que testemunha com os seus próprios olhos os acontecimentos, a realidade.
A história pressupõe um empregar desta visão pelo seu intérprete - operacionalizador consciente dos actos da história por visão ora objectiva, ora subjectiva.
Ao tratarmos da história como Estudo, Conhecimento ou apresentação de factos passados do homem estamos a privilegiar a óptica subjectiva ao passo que ao designarmos um facto por si só, estaremos a enfocar a objectividade da história.
A história apresenta um carácter tridimensional e polissémico sendo:
a) Os Factos e os Processos reais ocorridos em determinado espaço e tempo.
b) A Disciplina – Ciência que estuda os Factos e Processos Históricos de forma ordenada e cronológica das civilizações, sociedades; ou seja o estudo sistémico do universo sócio – cultural dos povos ou o Sócio - Sistema de cada povo, região ou nação, etc.
c) O conjunto de obras que narram os Factos e Processos históricos e estes surgindo como resultado dos esforço e busca do interprete operacional destes Factos e Processos (o Historiador).
Vislumbra-se a partir desta triplicidade que a História é a ciência dos actos do passado e dos vários factores que neles influenciaram. Factores estes de ordem natural, social, económico, politico, psico-comportamentais e até memo de carácter espiritual (porquê não?). Todos estes vistos numa sucessão temporal – cronológica.
Assim a história pressupõe um estudo dos Actos Sociais (a Acção Social Maxweberiana) do homem nas suas manifestações singulares ou colectivas (grupais) institucionalizadas ou não a luz da força do direito ou do direito da força enquanto seres conscientes num dado espaço-tempo, duas grandezas matemáticas algébrico – trigonométricas para a compreensão da história e da acção socializadora do homem que são sustentadas na variável Antropológica do Homem em relação ao Universo dado pela sua disposição psicológico – espiritual de cada onda/momento. Sendo a formula idealizante da história:
(O Co-Produto da História é igual ao Tempo sobre o Espaço multiplicado pela Psicologia Humana multiplicada pelo Somatório acção social mais ou menos infinito. T = Tempo. E=Espaço,Factores Geograficos – Ambientais, Materiais e Geopoliticos. AcS = Acção Social-Politica-Económica. )
A Filosofia da História e a Construção da Nação
“Factum Factum qui a Factum Est”, assim diziam os sábios antigos com Eliphaz Lévi; e é facto peremptório que uma Nação que não tenha Noção da sua própria história é uma Nação Morta ou sem alma e sobre isto o Prof. C. A. Diop diz: “sans la dimension historique, nous n´aurions jamais eu la possibilite d´etudier l´evolution des societés”.[1]
É através da história e com a história que podemos com mais profundidade compreender qualquer corpo social, sendo a história a alma mater dos povos (A Memória Colectiva, o chip set do Subconsciente Colectivo (Memória ROM) da Humanidade). Dai a importância relevante do Direito dos Povos em relação aos Direitos do Homem. Alias nenhum processo histórico – filosófico ou sócio – antropológico se faz por si mesmo. Cada época tende a firmar-se consigo mesma, por quanto é preciso dizer que na história em particular e nos processos históricos e/ou filosóficos (da história) em geral não existem cortes radicais como se tem pensado, isto porque cada época segue admitindo os processos próprios de cada época anterior.
Dai que é impossível conhecer a fundo a Nação Africana se ignorarmos a História do Antigo Khemet (Egipto) passando através do Ghana – Mali Mediaval, Kongo – Monomotapa, etc., até aos dias de hoje.
“L´Egypte jouera, dans la culture africaine repensée et rénouvée, le même role que les antiquités gréco-latines dans la culture occidentale”.[2]
O mesmo acontece com o caso particular de Angola, pois não seria correcto compreender nem edificar a Nação Angolana se não tivermos como base o conhecimento das Nações Medievais tais como o Kongo, Ndongo– Matamba, os Estados do Planalto (Vihé – Bailundo), a Nação Nhaneka – Nkumbi, a Nação Lunda – Tutchokwé, etc.
Longe do discurso erróneo de reduzir estes organismos políticos a simples etnicidade – tribal, quando as mesmas e algumas delas foram estados viáveis surgidos muito antes que muitos estados em relação a Europa, tais como o Kongo Medieval que surge por volta de 690 d.C.; verdade se diga que estes Estados – Nações – Territoriais deixaram-nos reminiscências territoriais e sociolinguísticas tais como a Huila (fundado pelos Mumwilas – Nhaneka - Nkhumbi), o Bailundo (fundado pelos Ilundu ou Bailundo - Umbundu), a Cidade de Mbanza – a –Kongo (fundados pelos Kikongo, com povos da mesma língua) e até o nome actual do país Angola (em alusão aos fundadores do Ndongo, Matamba, etc).
Através da história podemos perceber a dimensão geográfica da Nação (Espaço) e a dimensão cultural sócio linguística[3] dos Povos que compõem a Nação.
Conclusão
O aprendizado constante das línguas nacionais e a sua manutenção para o caso de Angola e de África podem ser uma chave fundamental para a compreensão da História Nacional (Nação).
Não pode haver Nação sem história e não pode haver Nação sem Território. (Eis a razão das variáveis apresentadas na equação acima).
Como exemplo temos os povos ciganos que embora tendo uma história comum, não se firmou como nação por não terem um território próprio, tal como foi o caso do povo hebraico-judeu-israelita até 1948. E estes povos após perderem a sua Nação Territorial primeiro com os Babilónios e depois com os Romanos e os inúmeros sofrimentos encontrados no percurso dos mesmos, e mesmo com todos estes problemas na sua vivência histórica, a Consciência da sua identidade histórica, alicerçada também pelo mito de “Povo Eleito” por Deus, faz deles a Nação que são. Julgo que foram as mesmas motivações da Consciência Histórica de carácter nacionalista que fizeram os filhos de Angola chegar a Praça da Independência em 11 de Novembro de 1975.
Porém para se compreender melhor a importância da História na construção da Nação, precisamos fundamentar e relacionar os conceitos seguintes:
1) Consciência Histórica e sua relação como o Ensino (Didáctica) da História (criação do currículo); 2) Cultura Histórica e Consciência Histórica (Psicologia e construção do individuo, dimensão antropológica); 3) Consciência Histórica e Determinismo Geográfico (Dimensão Geopolítica); 4) Filosofia da História (Universal e Africana); Consciência Histórica e Nação, Nacionalidade e Nacionalismo; 5) Consciência Histórica e Civilização; 6) Consciência Histórica e Ciclos Históricos (Sincronismos e Diacronismos); 7) Consciência Histórica e Dinâmica Cultural.
Questões que poderemos tratar durante o debate.
Pode-se destruir uma Nação pelas armas mas não o seu espírito, porque este só é acessível aos filhos do amanhã eterno. (Filipe A. Vidal).
[1] DIOP C.A. –Civilization ou Barbarie, Anthropologie sans Complaissance, Pres. Africaine, Paris,1981,pp.12+1
[2] Op. Cit. DIOP, C. A.- Civilizations ou Barbarie, Anthropologie sans Complaissance, pp.12
[3] VIDAL, Filipe Artur – A Língua e a sua Relação com o Código Genético, comunicação apresentada no IIIº Simpósio Nacional Sobre Cultura, Luanda, Palácio dos Congressos, 2006
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