sábado, 23 de março de 2013
alpendre
Sentada neste alpendre musical
ecoam notas mil
nesta pauta da pausa
soas a algo febril
um calor sem temperatura
uma revolução ausente de mudança
uma dor da cor do medo
uma entoação elevada
assim e esta pausa
neste cometa musical
da dor desigual
coberta de ecos infantis
de sonhos comuns
numa meta sem fita
numa fita sem metrica
neste alpendre sem paredes
onde comprimento iguala largura
luar mar
Neste mês igual ao tal
o tempo escorreu
o mar secou
o luar escureceu
Oh desespero!!!!
Oh tempero vital
A dor tão desigual
Se no mar a lua estivesse
Se na lua o mar coubesse
Haveria apenas um mar luar
um luar mar
assim como e certo eu te amar
e Ser
o luar do teu mar
O mar do teu luar
este
coraçao no teu olhar
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Poesia no feminino
Oh flor em sangue
mendiga de saliva do beijar
Oh ensaguentada flor
necessitada de um beijar
ali em contra baixo
na zona daquela dor
so a tua saliva
conforma o medicamento
para tamanho sofrimento
oh beijar equatorial
que nem meridiana tangencial
desta dança espiritual
Oh beijar ali
que cicatriza a ferida
da minha entrada
oh inicio neste ali
teu e meu
meu e teu
oh sarada ferida
nesta saliva alada
ali na zona baixada
da magoa magoada
oh boca de petalas
nesta rosa de palavras
enfeite da nossa alma
Oh porta de entrada
da musica ritmada
nesta dor descompassada
da tua lingua amada
matria desejada
tua porta de entrada
da vida almejada...
Lueji Dharma
oh beijar na zona baixada
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segunda-feira, 18 de março de 2013
Orfanato do amor
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domingo, 17 de março de 2013
Uma História de Amor à Procura de um Final Feliz
Assim como assim, estava desfeito o mistério. Sobrava apenas a curiosidade pelos detalhes. Como, aonde, quando, quem e porquê suspendiam Samira e Tamara, no fio condutor de uma história. Já não se questionavam se verídica era? Acreditavam piamente, que toda aquela história comigo se tinha passado.
Será? Como prender leitores senão relatar experiências também por eles vividas? Mas mais importante, como defender o amor, sem fazer crer ao leitor que também o autor já padeceu desse mal maior?
Histórias de amor dizem-se ridículas, assim como as cartas. Mas quanto mais observo o mundo em volta, mais sinto os homens desejosos de viver um grande amor. Entregar-se de corpo e alma à tal alma-gêmea. Porém, num mundo de canalhas e interesses, muitas vezes, absurdo é acreditar no amor. Vejo mulheres perderem-se em ataques infames a amantes de maridos infiéis.
Vejo infidelidade grassar como erva daninha no mal necessário do casamento. E o amor esvai-se em dores de um parto atroz. Até os homens, neste capítulo conseguem fazer nascer filhos. E neste capítulo do amor, não há cor e não há raça, todos amam, todos sofrem e todos se ficam na margem entre o canalha e o amoroso.
E aqui, vos apresento uma história de Amor à Procura de um Final Feliz. Uma história eventualmente minha, ou de qualquer outro que já tenha optado por caminhar no desfiladeiro do amor. Sem medo, com medos numa cruzada com contra-cruzadas de uma Madalena imberbe, inocente, apaixonada nas mãos de um... vá-se lá saber que nome dar...
11 de Abril de 2008
Agora que passou um ano desde a primeira vez que te vi, regresso a este mês, num derradeiro esforço para reescrever a nossa história. Gostava de escrever um final feliz. Mas no leito da minha dor todos me dizem ser impossível, porque não me amas. E há quem me grite ao ouvido: «a vida não é só finais felizes! Acorda! Achas que ele te dedicaria um livro?!» - perguntam-me numa ironia cortante. E sem saber porquê, respondo com toda a confiança de uma fé inabalável:
— Sim! Ele era capaz — sinto amor na caminhada sem provas. Como antigamente os amantes escreviam cartas que, desesperadamente, introduziam em garrafas lançadas ao mar, na confiança cega do destino se encarregar de entregar à alma certa. Assim, escrevo este livro revelador do amor que nutro no solo fértil do coração; e para iniciar, nada como voltar a este mês de Abril do teu aniversário. Foi neste mês de lágrimas mil que os deuses se reuniram para me lançarem o feitiço do amor! Decidiram oferecer-me como tua mulher, sem me consultarem. Os deuses devem estar loucos! E tu, marcaste-me, assim que me viste? Sabias que ia ser tua? Ou serei a tua mulher? Sabes isso? Por acaso tens a resposta? Agora, regresso a este mês de Abril e lágrimas mil a tentar reescrever esta nossa história de amor. Recuo o tempo, no folhear da memória! Se me amas verdadeiramente levanta os olhos quando entro. Mas se me queres simplesmente magoar, mantém-nos preso ao papel e não me perturbes! Fecha os olhos enquanto entro na tua sala. Não os levantes nunca. Não me vejas. Deixa-me sair como entrei! Deixa-me sair como entrei!
- Antevejo uma tragédia – riu-se Tamara para Safira. Deixa-me sair como entrei?
- E saíste como entraste? – perguntou Safira apertando o cabelo num puxinho. Descobrindo a nuca ao sabor fresco do ar. A história deixava-a afogueada.
— Claro que não! Ele montou-me uma armadilha onde intencionalmente caí.
— Intencionalmente?
— Sim – ri-me, em todo o processo nunca perdi a consciência. Espera, minto, só quando fui anestesiada...
— E foi bom?
— Foi delicioso, foi excelente! Pela primeira vez na minha vida senti-me completa e finalmente entendi o conceito de alma gémea. Pela primeira vez na vida entreguei-me por completo e amei de verdade.
— Então valeu a pena?!
— Já me fiz essa pergunta milhares de vezes... e aqui perante vocês tenho de confessar que valeu a pena porque percebi a dimensão do desejo, paixão e amor!
— O Amor engrandece! – suspirou Safira, antevendo o tempo de viver o seu grande e eterno amor.
— Sim, quando descobres o amor verdadeiro passas a acreditar que podes conquistar o mundo. Que a vida é uma tela colorida que todos os dias escolhes pintar nas cores que queres.
— Mas como se conheceram? Quem é ele? Como te cativou? – apressou Tamara numa tentativa de descortinar o personagem principal.
— Conheci-o num hospital…por causa de um quisto que tive no pulso. E antes de o conhecer sentia, claramente, que esse quisto era somático. Sentia ser o meu inconsciente a empurrar-me para a necessidade de viver uma vida plena; a acreditar no amor, mas Oh God! Era tão difícil, pois quase toda a gente me gritava: sonhos, amor, alma gémea…cresce! Isso não existe! E eu a balançar, na dúvida entre a realidade e o sonho, abri as portas ao caos! Ou seja, para a estrondosa entrada de Leão Magno…
O Dia em que te conheci — 11 de Abril de 2007
A tua voz rouca anunciou o meu nome vezes sem conta. E enfiada na casa de banho saí a correr. Mas demasiado tarde. O meu atraso parecia ter-te deixado mal-humorado. E por isso, entrei na tua sala timidamente, não te queria dizer que estava no W.C. Pediste-me, num tom monocórdico que fechasse a porta e tomasse assento numa das tuas cadeiras desconfortáveis.
Lueji Dharma
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sexta-feira, 15 de março de 2013
Um livro recomendável
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terça-feira, 12 de março de 2013
As vantagens de ser um filho pródigo…
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domingo, 3 de março de 2013
Votação para os 11 livros mais lidos de autores angolanos
Vote no (s) livro (s) que mais o marcou de um autor angolano!
Clique no link abaixo e vote.
Caso não encontre o livro em que pretende votar pode adionar o nome do livro e autor.
Obrigada
Lueji Dharma
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Lueji Dharma entrevistada por Sérgio Conceição
Antes de mais quero agradecer a Lueji Dharma pela oportunidade e a disponibilidade em aceder conversar comigo. É um privilégio conversar consigo.
Sérgio Conceição (SC): A primeira pergunta que lhe faço é a seguinte: Quem é a Lueji Dharma?
Lueji Dharma (LD): Quem agradece sou eu e o privilégio também meu por ter sido escolhida para falar consigo neste teu espaço de entrevista. Bem. Sou uma mulher que nasceu no conturbado ano de 1977 na província da Lunda Norte. Aos 7 anos entretanto tive que “emigrar”para Portugal onde estive até 2006 altura em que volto a Angola. Sou uma pessoa normal, que faço um esforço por aceitar todos, sem perder-me a minha identidade e a minha liberdade. Embora reservada, acabo por gostar de viver envolvida em ambientes de cultura e arte.
SC: Como é que foi esta mudança da Lunda Norte para Portugal? Não deve ter sido fácil não é?
LD: Não foi fácil, pelo contrário, foi de uma dificuldade imensa. Desde logo teve que haver uma readaptação da família que penso nunca ter sido conseguida. No regresso perderam-se laços familiares, culturais e sociais impossíveis de reparar. Embora a comunidade africana na Madeira tentasse manter-se unida e conservar valores, confesso que nós jovens retornados sentíamo-nos deslocados. Esse vazio em alguns levou a situações problemáticas (alcool, suicídio, drogas...), em mim criou, uma pessoa bastante introspectiva, desejosa de conhecimento e muito ciente do mundo ao meu redor. Fechava-me muitas vezes no meu quarto e punha-me a ler e a escrever, para tentar entender melhor as razões por detrás de tanta injustiça. Só isto me ajudava a esquecer e a passar o tempo.
Embora me tenha deparado com alguns espisódios de intolerância racial e cultural (confesso que, em geral, considero o povo madeirense acolhedor, solidário e empreendedor. Por isso, não me surpreendeu a lição de solidariedade e de reconstrução que a Madeira deu ao mundo após a “destruição” provocada pelas chuvas.
SC: Entretanto aos 16 anos acontece-lhe algo que muda completamente a sua vida!
LD: Um autêntico milagre! (risos) Numa altura onde as redes sociais como FB não existiam, e as livrarias desconheciam a literatura africana feita por africanos, acabei por receber uma prenda vinda dos céus, que ultrapassou as barreiras marítimas inerentes à vida numa ilha.
Um casal de angolanos jogadores de handball do ASA foram viver para a Madeira ao serviço do Académico do Funchal. Este casal tornou-se parte da minha vida; estávamos praticamente todos os dias juntos, e de alguma forma me vi a reviver o lado angolano. E como eles sabiam do meu amor por livros ofereceram-me um livro de Pepetela em 1973 (na altura tinha 16 anos).
Escusado será dizer que devorei o livro numa semana, e vivi momentos indiscritíveis, que até então, não tinha vivido em outros autores que lera: Júlio Diniz, Eça de Queiroz, Florbela Espanca, Sophia de Mello Breyner, Milan Kundera, Sartre, etc.
O livro começa com “Lueji voltou ao lago da sua infância”, e nada pode ser mais verdadeiro que esta frase. E neste regresso ao lago da minha infância identifiquei uma África com identidade, tradição e cultura.
Começo a perceber com a leitura deste livro o que era cultura africana, as suas raízes, a vivência, os costumes, a rebelar-me contra os dogmas difundidos pelos filmes e novelas, onde o africano é sempre apresentado como o escravo, o acessório da história e aquele que acaba sempre por morrer.
Mas para além desta quebra das regras do preconceito global, Pepetela faz cair mais um tabu ao ter como figuras principais duas mulheres africanas separadas por 4 séculos de história. Numa peça literária extremamente arrojada Pepetela deita abaixo tabus raciais e recria um Império onde a mulher é livre de escolher e de ser detentora do poder!
SC: Entretanto aos 18 anos vai estudar Arquitectura em Lisboa?
LD: É verdade. Por força das circunstâncias tive que ir para Lisboa estudar, pois o curso que escolhi não existia na Ilha da Madeira. Mais um processo migratório que marca mais uma fase da minha vida. Desta vez, teria que viver sozinha na metrópole, uma cidade desconhecida onde tudo era muito mais agressivo que a pacata cidade do Funchal. Acabei por partilhar uma casa com uma amiga que hoje também está em Luanda.
Esta mudança, embora com algumas dificuldades pelo caminho, foi enriquecedora para a entrada na vida adulta. Ao fim de 6 meses já estava enquadrada na vida académica usufruindo das dificuldades inerentes ao estudo, como também, da vida nocturna lisboeta (em especial o Bairro Alto com os seus milhentos bares e as festas da Universidade). Destes momentos de rebeldia, recordo com destaque os passados a escrever e a debater filosofia na Rua do Mezcal com a minha grande amiga Carmo. Ainda guardo alguns textos com estas conversas metafísicas (muitos risos).
Mas ainda assim nunca deixei de estudar, sempre fui responsável no que toca ao cumprimento dos meus objectivos académicos. Mas também não deixei de viver. Tentei manter algum equilíbrio entre viver e estudar (nada fácil!).
SC: E a escrita ficou para traz?
LD: Não, pelo contrário. Este gosto começou a intensificar-se cada vez mais, porque mesmo nas noitadas que fazíamos andava sempre com caderno e a certa altura, isolava-me em algum canto, para passar para o papel aquelas experiências e vivências. Escrevia com a ânsia de perpetuar aqueles momentos, as amizades e aqueles interlocutores. A vida era a minha maior inspiração.
SC: Em 2006 viaja para Angola…
LD: Sim e por apenas vinte dias. Mas foram 20 dias fantásticos e de muita adrenalina.
Revi a família, amigos, a gastronomia:o funji com moamba de galinha, o mufete, o caldo, o calulu mas também investiguei e estudei a realidade e a sociedade angolana. Foram 20 dias produtivos onde acabei por visitar várias localidades de Angola, nomeadamente em Benguela e Lunda Sul.
O retorno a Portugal foi feito com a certeza de um regresso definitivo a Angola. Na altura, fui incompreendida (até por mim... mtos risos) pela decisão profissional, familiar e pessoal, mas acredito que com o passar do tempo, será entendível as razões desse acto aparentemente inexplicável.
Surge o primeiro livro.
Depois de muito trabalhar e fazer uma pós graduação em sistemas de Informação Geográfica e Historia Regional Local Lueji Dharma volta finalmente a Luanda para lançar o seu primeiro livro - Uma história de amor à procura de um final feliz.
LD: É um ensaio onde procuro expressar/falar do poder do amor e da opção de amar, apesar das dificuldades e adversidades que as pessoas enfrentam para continuar a acreditar nessa força que movimenta o mundo. É uma ficção, em que é realçado, acima de tudo, a necessidade de te entregares ao amor sem medo de sofrer ou de condenações. O amor é indispensável à busca pela felicidade, sendo, por isso, um dos temas em que muito medito e que decidi partilhar pela primeira vez com os leitores.
SC: Depois deste livro outros projectos ligado as artes surgiram em sua vida; um deles e na qual faz parte até agora é Movimento LevArte onde tem uma rubrica, A MESA BICUDA, e que nela entrevista pessoas da sociedade angolana que estejam ligadas as artes. Quer nos falar um pouco sobre este Movimento?
LD: O Movimento LevArte foi criado no sentido de dar voz às artes. A certa altura o Kardo Bestilo (o escritor do controverso e fundador do movimento) sentiu que havia necessidade de Luanda ter uma casa só para as artes e em especial à promoção da leitura. Não é que já não houvesse, mas era preciso fazer mais. É assim que surge este projecto que não é apenas para Luanda até porque já estivemos em algumas províncias do país, estamos no Brasil e pensamos internacionalizá-lo e dinamizá-lo cada vez mais.
Mas estava eu a dizer, que este Movimento foi criado para massificar e promover a cultura nacional, não só no que diz respeito à literatura, mas também às outras artes: pintura, música, teatro, dança e de todo tipo de arte que seja de facto parte integrante da cultura nacional e não só. Fazemos tertúlias e temos também a MESA BICUDA de que falaste.
Esta mesa é na pratica um espaço de entrevista onde se partilha para além da experiência profissional e artística dos convidados a sua alma, no fundo, os seus sonhos, os seus obstáculos, as suas crenças e a fé que o impele a continuar. É importante realçar que nesta mesa pode-se sentar qualquer pessoa desde que se sinta confortável para revelar a sua história pessoal a um grupo de nossos convidados e também, responder às perguntas dos mesmos (com os “riscos” que daí podem advir).
SC: E quem já esteve na sua “MESA BICUDA”?
LD: Olha a nossa mesa tem sido muito bem frequentada, qualitativa e quantitativamente, por diferentes personalidades: o Armindo Laureano apresentador do Zimbando, Kanguimbo Ananás que é escritora, o João Melo que é escritor, Joel Sérgio escritor, o Mário Bragança que é escritor, a Lukenia Gomes que é actriz e apresentadora do Flash, o Walter Ananás que é músico, a Aminata Gourgel que é actriz, a Dina Simão apresentadora do Sexto Sentido, Ana Silva jornalista do NovoJornal, a Gersy Pegado que é cantora das Gingas, Lukeny Fortunato Bamba apresentador do Artes ao Vivo, Kardo Bestilo escritor do Controverso, Poeta dos Pés Descalços declamador e poeta, Kool Kléver músico do hip hop, Feliciano Mágico operador de câmara da TPA,. Já estiveram lá várias pessoas da nossa sociedade, mas obviamente que também já passaram por lá algumas pessoas menos conhecidas pelo público angolano, e que de alguma forma marcam a cultura luandense.
SC: E que figura nacional e internacional gostaria de poder entrevistar na sua MESA?
LD: Quanto a figura internacional gostaria de poder falar com a Oprah Winfrey, pelo seu percurso como ser humano, isto é, pela forma perseverante e tenaz como ela soube ultrapassar todos os obstáculos e sem esquecer o seu espírito solidário e filantropo. Com ela aprendi as regras da auto-aceitação, do auto-conhecimento e da auto-superação.
SC: E a figura nacional que mais gostaria de ter na sua MESA?
LD: Tenho mesmo que responder esta pergunta?
SC: Sim, se não se importasse agradecia que respondesse!
LD: E se eu não quiser responder? Risos…
SC: Não é obrigada.
LD: Ok. Eu dou uma meia resposta. Há uma pessoa em particular que gostaria entrevistar na MESA BICUDA, mas infelizmente pela relevância que tem na sociedade angolana talvez não o consiga ter para já.
Mas gostaria de poder ter o privilégio de ter na Mesa Bicuda TODOS os líderes angolanos, que de alguma forma se sintam abertos a partilhar experiência de vida com o público presente. É preciso que os jovens conheçam a história da boca de quem a fez.
SC: Respondeste à minha pergunta?
LD: Hahahahahaaa. Acredito que sim.
Depois de uma pequena pausa para atender um telefonema, mudamos de assunto e falamos e começamos a falar de Deus, de Fé e de Amor.
SC: Escreveu a Aldeia de Deus. Acredita em Deus?
LD: Acredito em Deus, aliás, não posso conceber uma vida sem fé em Deus. Tudo faz sentido quando se deposita a nossa vida nas mãos de Deus, agindo por devoção e desapegado dos resultados. Na Aldeia de Deus a fé é o principal impulsionador da vida e do Ser. Como dizia Martin Luther King: Suba o Primeiro degrau com fé. Não é necessário que você veja toda a escada. Apenas de o primeiro passo”.
SC: No seu livro há uma busca pelo Dharma? O que é o Dharma?
LD: Na Aldeia de Deus há uma luta entre o Ser e o Parecer. A busca do Ser, em detrimento do parecer, passa necessáriamente pela libertação do Karma. Este karma é no fundo o ego excessivo que não nos permite vêr o sublime que desenrola num mundo paralelo ao mundano. O que vale ser vaidoso e viver na luxúria, no mundanismo se ao pó voltaremos todos? Olha, um dia um amigo, preocupado que eu me pudesse perder, disse-me o seguinte: Quando os guerrilheiros romanos regressavam a Roma vitoriosos das batalhas, com muita pompa e circunstância, havia sempre ao lado dele uma pessoa cuja única tarefa era gritar-lhe ao ouvido “cuidado com o ego, não te deixes contaminar”. Isto para dizer que a busca do Dharma é constante, e que é uma decisão diária. Só é possível atingirmos o Dharma se realmente deixarmos de lado todos estes atributos que mais não são do que meras armadilhas para fugirmos à missão divina.
SC: A sua crença em Deus é exactamente ao contrário do pensamento daquele que foi o ultimo premio Nobel português: José Saramago.
Quer comentar?
LD: Em relação a esse assunto, há uma frase de Saramago que para mim faz-me acreditar que ele sempre buscou Deus: Não sou um ateu total, todos os dias tento encontrar um sinal de Deus, mas infelizmente não o encontro. Desta forma, Saramago que dedica uma vida a buscar Deus, mas esqueceu que os sinais de Deus apenas são visíveis com o coração. Mas de qualquer forma, foi um dos autores que num mundo onde parece mal usar publicamente a palavra Deus, trouxe o nome de Deus e a Bíblia para a ribalta. Saramago no fundo buscava Deus incansavelmente mas talvez lhe faltasse ver com a fé de uma criança.
SC: Dizes que Saramago faz ou fez uma interpretação errónea da bíblia. Agora eu pergunto-te. A própria bíblia também não é uma interpretação de pessoas? Não foram os homens que a escreveram? Quem nos dá a certeza de que é o pensamento de Deus que realmente está por detrás da escrita da bíblia? E ainda: Já que ela foi escrita a milhares de anos e foi traduzida em muitas línguas, que garantias você tem de que ela foi de facto traduzida tal e qual como foi escrita no passado?
LD: Sabes…Em relação a isto tenho que te dizer que pego nas palavras de um amigo meu, que certa vez disse-me o seguinte: “Não fales de algo que ainda não tens o total conhecimento. Leia a bíblia de uma ponta a outra e depois volta a ler e depois volta a estudá-la”. E eu concordo com estas palavras. Mas há algo que eu também faço para continuar acreditar na bíblia, deixando que ela própria se vá revelando, numa atitude de a deixar: orar em mim. Por exemplo há salmos que surgem em momentos difíceis e eu vou vivenciando a força destes, há ainda algumas letras de canções que têm mensagens bíblicas, ou poemas, ou livros... no fundo vou encontrando os tais sinais que Saramago teimava em não vêr.
Humildemente reconheço que pouco sei da Obra de Deus, mas o pouco que sei, dá-me fé para continuar a procurar a sabedoria divina, não só na bíblia, mas também, em outros textos sagrados como a Canção do Senhor – Bhagavad Gita.
SC: Como escritora que é acha que Saramago mereceu o Premio Nobel da Literatura?
LD: Escritora? Risos…Eu ainda não me considero uma escritora, sou apenas uma iniciante, como tal não posso, atestar se o prémio foi bem entregue. Mas prémios à parte, há que reconhecer a perseverança, a dedicação e o amor de Saramago pela escrita.
SC: Lueji Dharma faz uso do Facebook. O que acha desta rede social? É viciada no Facebook?
LD: Sim faço uso do Facebook, é uma excelente ferramenta de partilha de informação e de comunicação. Passo algum tempo interagindo com amigos e com familiares que vivem ou estão longe de mim e isto é que faz o Facebook ser algo único. Alem disso também acabo por interagir com outros amantes das artes e da literatura, com quem partilho a busca pelo conhecimento.
SC: Já ouviu falar de um grupo de angolanos no Facebook conhecidos como Revolucionários Ciberneticos?
LD: Quem é angolano e está no Facebook certamente que conhece, como também os conhece.
SC: E que tem a dizer sobre eles?
LD: O que posso dizer é que o Facebook tem sido neste momento o maior palco de debates e diálogos entre angolanos do mundo inteiro de diferentes gerações e passados. É uma verdade incontornável e impossível de contrariar. Tem sido um veículo de exercício de cidadania que uns usam de forma construtiva, outros usam de forma aleatória e abusiva. A alguns tem aproximado na defesa de ideais e convicções a outros tem separado pelo uso abusivo de ofensas verbais conotadas a atitudes de intolerância racial e política. Esperemos que o balanço final deste diálogo cibernético seja o mais positivo para os angolanos.
SC: Como qualificaria a juventude angolana?
LD: A juventude angolana na sua maioria é ávida por conhecimento, bastante persistente e autodidacta. Desde que descobri que muitos jovens angolanos aprendem a usar programas de informática pelo youtube, fiquei rendida à capacidade de busca do conhecimento.
SC: Gosta de música?
LD: Gosto um pouco de todo tipo de música, mas ultimamente tenho estado a cultivar o gosto pela música clássica.
SC: E o Kuduro?
LD: Gosto deste estilo músical, por de alguma forma gravar para a posteridade em letras simples a vivência de Luanda e em especial dos musseques. Quanto à dança quase acrobática em si…risos…risos…danço sim, não sou “uma craque” mas dou uns bons toques.
SC: E qual é o seu prato preferido?
LD: Gosto de caldo de peixe com todos os seus ingredientes (batata doce, mandioca, jindungo, limão, e farinha)
SC: Caldo?
LD: Sim, do caldo de peixe. Mas também gosto de bacalhau com nata, o mufete e o funje com moamba de galinha.
SC: Bebe álcool?
LD: Aprecio vinho tinto especialmente a Casta Syrah.
SC: Pratica actividade física
?
LD: Gosto de correr e ginásio.
SC: Qual é o seu clube preferido?
LD: Não tenho.
SC: E qual é a figura angolana e internacional que mais admira?
LD: Internacionalmente, já disse que gosto da Oprah, mas não posso deixar de referir um grande mentor africano da luta pela liberdade e contra o racismo: Nelson Mandela.
A nível nacional prefiro não revelar.
SC: considera-se uma mulher bonita?
LD: Considero-me uma mistura equilibrada entre físico, inteligência e coração. Levo a vida com grande sentido de humor.
SC: É uma mulher muito linda e com um corpo de cortar a respiração. Deve ser muita assediada?
LD: Nem por isso.
SC: Tem namorado?
LD: Não.
SC: Estamos a terminar esta entrevista e quero agradecer esta oportunidade e disponibilidade. Se quiser dizer algo que eventualmente não tenha dito, mas que gostaria de dizer…tenha a bondade.
LD: Agradeço desde já o prazer desta conversa e as questões que me colocou. Na Mesa Bicuda pergunto sempre para finalizar qual o maior sonho do convidado, porque acredito que somos do tamanho dos nossos sonhos; gostava de incentivar a todos os que lerem esta entrevista a nunca desistirem de concretizar os seus sonhos, pois eles são importantes para o progresso do mundo e de todos nós. E ainda bem que não me perguntaste qual o meu maior sonho? (muitos risos)
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O Regresso da Rainha Njinga de John Bella
Saudações literárias a todos os presentes
Antes de tudo, gostaria de agradecer ao anfitrião deste momento cultural pela sua dedicação, persistência e sacrifício na missão de promover e fazer literatura em Angola, em especial, nas áreas da poesia, declamação e historiografia tradicional e por outro lado, no seu empenho em impulsionar novos valores literários com o objectivo maior de instituir uma angolanidade indispensável ao desenvolvimento. (não querendo entrar no lado político do deputado Jorge Marques Bela uma vez que a entidade presente na sala é o Escritor e Professor Jonh Bella saltarei para a parte literária).
Assim sendo, conheci John Bella no lançamento do meu livro e desde então me interessei pela obra deste autor. Curiosa tentei angariar alguma das suas obras: Água da Vida, Panelas cozinharam Madrugadas, A Canção Mágica que repetidamente me disseram estar esgotados, entre sempre um rasgado elogio dos interlocutores ao nosso autor. Todos conheciam John Bella e alguns até declamavam os seus poemas. Este reconhecimento pode não ter o glamour de um Nobel mas é para mim e muitos presentes nesta sala motivo de orgulho que nos faz vir prestar homenagem merecida. Que mais pode desejar um escritor do que ter a sua obra lida, declamada e até fotocopiada (como acabei fazendo juntamente com muitos outros)? Poderá haver maior prova do seu sucesso?
Durante o percurso desta amizade literária acabei tendo a oportunidade de ter pela primeira vez em minha mão uma obra do autor: Os primeiros passos da Rainha Njinga e agora o segundo o Regresso da Rainha Njinga, o qual acaba de nascer…
Neste Romance Histórico John Bella parece ter sido transportado da época da Rainha Njinga para os nossos dias com a responsabilidade histórica de fazer constar factos e descrições de uma época marcante na constituição de Angola como a conhecemos. Quem lê os primeiros passos da Rainha Njinga e agora o Regresso da Rainha Njinga sente-se transportar para esta dimensão espácio-temporal do povo Ambandu a fim de vivenciarmos uma verdade histórica tradicional com os olhos de quem vê: Os detalhes dos momentos, as descrições vívidas dos comportamentos, gestos e feições, os cheiros da terra, do capim, as visões das paisagens, os rituais e mnemónicas de um povo… tudo nos envolve para nos fazer crer que já não estamos a ler mas a presenciar cada momento como se parte da integrante da história fôssemos. A leitura deixa de ser leitura para ser uma realidade vivenciada como uma tela dotada de vida, onde tudo tem uma autenticidade inexcedível. O ontem passa a Aqui e Agora!
E Aqui e Agora em jeito de excursão conhecemos o território do Ndongo reconhecendo justificações de uma toponímia e costumes que até hoje permanecem ( Cacuaco, Kinfangondo, Caxito…)
Mais uma viagem relatada onde a destemida e sábia rainha Njinga exibe dons de liderança pela congregação da sabedoria de dois mundos oponentes (cristão e xamânico). Sem se intimidar com a força guerreira dos xinguilamentos xamânicos da terra ou com a tecnologia bélica das cruzadas cristãs Njinga flutua numa outra dimensão onde a mente encerra o coração e inspira a confiança indispensável ao séquito de seguidores que angaria dos dois lados. Bebendo de ambos os mundos, constrói um novo – o reino de Njinga Mbande- onde a fé amparada por seu pai o patriarca da Nação a faz brilhar tal qual estrela polar no breu da noite.
À semelhança da rainha de Sabá Njinga percorre o país, entre ofertas e gastronomia típica de cada sobado, escondendo a agenda militar e de estratégia governativa que nos momentos de solidão desenha com o seu falecido pai.
Em Lukala é recebida “ com pompa e circunstância. Tinham muito para dizer. A mbanza do Soba Samba a Lukala estava em festa. A multidão juntou-se à entrada da sanzala, onde organizaram a kizomba. Muita bebida e comida da terra. As raparigas, de vestes apropriadas para a ocasião; trajavam saia de ráfia e outra ráfia que lhes cobria o peito. Madimba, kisanji e outros instrumentos musicais. O som das cornetas, feitas de cornos de antílopes, despertava a curiosidade nos populares circunvizinhos; estes vinham juntar-se à festa. As músicas sucediam-se, umas após outras, com variadíssimos ritmos. A festa continuou, até ao dia seguinte.” (Regresso da Rainha Njinga, John Bella)
No momento da chegada, talvez por estar exausta da viagem, Njinga não se reuniu com os Makota para os informar do resultado das negociações. Só depois então, iria ter com o irmão Ngola a Mbande, que a enviou como emissária nas negociações com os portugueses, para a paz no Reino do Ndongo.
Os anos de vida que lhe pesavam na sua soberana sabedoria fazem-na saber confiar desconfiando. Perder o homem da sua vida e o filho assassinados às mãos do irmão Ngola remeteram-na para momentos entre a vida e a morte, tendo apenas os desígnios da nação lhe entregue pelo pai a feito ressuscitar para esta missão divina de buscar a libertação. Perdera-se a jovem apaixonada guerreira e ficara a madura Njinga que engole o orgulho e a raiva para servir de negociadora entre os invasores e o Rei Ngola seu irmão. Aceita assim a identidade portuguesa crista sob o nome de D. Ana de Sousa pois acima do desejo de justiça sobrepunha-se os desígnios dos povos prestes a degladiarem-se pela capital S. Paulo de Luanda.
Já o seu irmão cego pelo poder e déspota dificulta o trabalho de diplomacia que Njinga enceta, por considerar estar acima de qualquer lei. Apartados pelo carácter e por esta tomada do poder pela força Njinga não desiste pois sabe que a sua sabedoria não lhe foi entregue pelos homens mas por entidades superiores. Angustia-se com a eminência de uma guerra que arrasará o seu povo dado o poder bélico que os invasores demonstram e a arrogância e falta de estratégia do Soberano ilegítimo, seu irmão.
Os sofrimentos infligidos aos milhares de escravos e as mortes vãs levam-na a agir como soberana legítima reunindo todas as entidades representativas do sobados do rio Kwanza em concílio:
“Imaginem vocês, que as dificílimas conversações que desempenhei em Loanda, o tratado que assinei, até certo ponto, deveras vantajoso para nós, ele parece desvalorizar, apenas pela sua árdua ambição pelo poder! – dizia ela, decidida – Mas não deixarei que isso aconteça! Ele não pode continuar a colocar a vida de todos os mundongo assim em risco. Vocês, não fazem ideia do que são capazes os brancos, quando pretendem investir numa raça que não é a sua. Apercebi-me de horrores que foram praticados contra um povo chamado os Maia. Disse-me um missionário que, numa altura em que eu teria por aí, meus vinte e quatro anos de idade, atacaram e exterminaram aquela gente em Kuzgo. Era este talvez, o nome da mbanza principal daquele povo. E vejam que isso aconteceu, depois de anos antes, os terem hospedado com todas as mordomias. É assim, ou de maneira mais cruel, que eles tratam os humanos. E o pior, muitas vezes, com a cumplicidade dos missionários cristãos!”
Descrito o cenário Njinga partilha a estratégia de libertação de Angola do colono pelo recurso a um plano de sacrifícios e sacrificados, onde escravos transforma-se em moeda de troca. Aproveitando o tempo de paz garantido pelo acordo firmado com o rei de Espanha em São Paulo de Luanda Njinga refaz, à revelia dos dois reinados, um exército demonstrado destreza na Arte da Guerra. Aceitando com astúcia a esmola de uma identidade portuguesa e cristã, o sacrifício do seu povo à escravatura e a subserviência a um Rei ilegítimo, Nzinga assume-se como a líder que traçará o caminho da Libertação de Angola.
Caso não conhecesse o autor neste presente contemporâneo atrever-me-ia a dizer que ele fora o eterno e fiel acompanhante (amante) de Njinga Mbande em todo seu percurso de vida: conhecendo-a desde o seu nascimento, a sua primeira paixão, a perda da sua virgindade, à sua primeira batalha ao lado de seu pai o Rei Ngola Kiluanje e às grandes desilusões que vou manter secretas … aguarda-se talvez nos “Últimos Passos da Rainha Njinga” a morte desta rainha que John Bella, seu eterno apaixonado platónico, teima em não fazer acontecer.
Obrigada John Bella por mais este momento de angolanidade literária, em que se faz justiça às heróinas que Angola possui.
Bem haja!
5 de Novembro de 2012, Luanda (União dos Escritores de Luanda)
Lueji Dharma
Nzambi é Amor…
Partícula de Deus
O sol crescia radiante naquele fim de dia. Magnânimo expandia-se sobre o véu da temperatura. Oh mar de raios libertos nestas partículas de Deus que calmamente percorrem céus para no finito se despenharem. E neste finito onde nos encontramos somos todos partículas de Deus encarnados nesta matéria que vida após vida pretende Ser a perfeição.
Coberto por um manto de terra e lixo o diamante jaz esquecido nas trevas do desconhecimento. Buscai e acharás! Mas não te iludas buscando lá fora.
No silêncio pergunta:
- Quem sou Eu? – e após a pergunta dirige a tua mão para quem és tu? Agora que fizeste movimento. Já sabes quem és tu? Não és o cerébro, o pescoço, a boca, os pés ou a barriga. És o coração! Intuitivamente e até desconhecendo a fisionomia sabes que és o coração.
Porventura já observaste os quadros que pintores iluminados deixaram ao teu dispor para que te possas encontrar?
O dedo indicador aponta o caminho para a elevação – o coração - a partícula de Deus comum a todos nós. O tesouro a ser descoberto e que nos faz todos à semelhança de Deus.
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