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sábado, 6 de fevereiro de 2010

Luanda - os engarrafamentos

Na vida a certeza é tão duvidosa como a própria dúvida. Em Luanda o engarrafamento tremendo é uma constante quase permanente. E eu na minha pobre ignorância de alguém que odeia engarrafamentos julguei ser algo que todas as pessoas detestassem. Mas como sempre até a mais certa das certezas tem a sua excepção...nesta sexta-feira, luanda voltou a não supreender com mais um engarrafamento onde quase dá para lêr os Lusíadas de Camões sem grandes pressas...e quem sabe ainda reler. E neste momento de horas dentro de um carro ficamos a conhecer de forma profunda os restantes passageiros que nos acompanham nesta viagem sem hora de chegada. E no desfiar da conversa solta sem qualquer propósito, só para se fugir aquele silêncio incomodativo, um dos viajantes liberta um suspiro de felicidade por ter conseguido escapar à monotonia de Benguela;

-Eu ia trabalhar em Benguela, e só aguentei lá um dia! Um dia! Confesso que nesse dia até chorei...
-Mas porquê?
-Benguela não tem nada!
-Nada?
-Não existem zungueiras, não existem kandongueiros e eu chegava ao trabalho em 15 minutos!
-Mas chegava ao trabalho em 15 minutos! Isso é optimo!
-Óptimo? Não existe engarrafamento! Uma cidade sem engarrafamento! Eu não aguentei aquela cidade...
-Então você gosta deste engarrafamento
-Claro que sim...isto é uma cidade movimentada!

E o meu silêncio, mesmo que comprometedor fez-se sentir! Pensei e repensei! E a minha certeza que ninguém gosta de engarrafamentos caíu que nem um prédio em demolição. Há quem já não viva sem o caos de Luanda...há quem sinta este caos como a sua Luanda! E entende-se! Foi nesta cidade de azáfama, de gritos dos kandongueiros, das cantilenas das zungueiras que ele cresceu...e Luanda não é apenas os prédios é também o quadro de relações movimentadas que a preenche. Luanda é também este tráfico caótico onde as buzinas irrompem de carros que ameaçam atacar no solavanco da embraiagem...Luanda é esta cidade grávida carros, de zungueiras e kandongueiros...

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